
O prazer vem então do dinamismo rápido, mas não afoito, que se instaura aqui e ali; da fina e quase demorada percepção que existe antes do clic. Bresson, vale notar, não é adepto da fria geometria que ocorre num tabuleiro de xadrez sem peças; o que mais o mobiliza são as possibilidades que a dança das peças evocam...
Sem dúvida, outro fator importante, já de certa forma aludido, é a profunda compreensão da luz que Henri possui, pois cada cidade tem a sua luz, ora de forma mais áspera, ora com mãos de ninfa, ora mais suave e morna, e, em contraste, seus interiores transmitem uma paz de aprazível sombra.

Além disso, Bresson sabe como poucos ver um artista envolvido com os próprios trabalhos, basta lembrar a foto de Giacometti, na mesma inclinação de movimento, que uma de suas esquálidas esculturas, como se não só o criador, mas também as criaturas tivessem exigências da vida que clamassem por ação.

Enfim, pode-se dizer que Bresson, seja no equilíbrio, seja na luz, seja no tema, sempre produz uma delicadeza imponderável como quem tira a carta do envelope sem rasgar o papel...