domingo, 29 de abril de 2012

No ardor dos olhos




No ardor dos olhos,
Sou tal como o pintor:
Havendo sempre
A tua beleza
Por perto,
Terei meu Norte.

Ou dito de outro modo:
Tua beleza
É aquela delicadeza
Com que prende os cabelos –
Melhor refúgio da brisa.

Ou ainda:
Tua beleza
É aquele toque
Inefável de brilhante
Nos lábios –
Estrela cadente
Feita para um Eclipse.

Ou por sinal:
Tua beleza
É a singela alegria
De colocar as sapatilhas –
Um perder-se em Veneza.

Ou sem dúvida:
Tua beleza
É a soberba arte
De teu doce olhar
Diante da Neguinha –
Luar sem lembrança
De noite sem luar.

Ou para todo sempre:
Tua beleza
É ainda mais minha
Quando você sorri
A ponto de
Fechar os olhos –
Primeiro dia
De céu azul
Na Terra.


Obs: Obra de Canaleto.

Dedico à minha doce Jana.



quinta-feira, 26 de abril de 2012

Caminhantes




Você,
Caminhante de Giacometti,
Persevera tanto,

Vai sempre
À frente de mim:
Frágil e Resoluto,
Curvo e Faminto
De algo.

Sem pulsação
Premeditada,
Sem desbravar
Ao certo
A própria saliva.

Vai à frente,
Carcomido
Pela luz.

Por toda vida,
Através de passos
Que jamais se desvencilham
Do pântano asfalto.

Vou assim,
Com algum ritmo,
Tão perdido
Quanto você.

Puro
Apesar de
Impuro.

Pouco a pouco,
Cada vez mais louco.

Ao menos,
A ponto de me reencontrar
Em teu olhar.

Ao menos,
A ponto de chorar
Teu choro secreto
De bronze.

Ao menos,
A ponto de ruminar
O inruminável
Em ti.

Louco, sim,
E cada vez
Mais louco.

Sem outrora
Nem amanhã:
Louco.

Sem prós
Ou contras:
Louco.

No entanto,
Prestes a conduzir
Tua trêmula mão,
Como se fôssemos
Irmãos.

Como se já
Não houvesse mais
Os desvãos da alma.

Como se nada
Mais fosse em vão.

Assim, meu irmão,
Se sou louco
Ou não,
Já não sei.

Basta-me
Tua singela mão
Para já não
Mais sofrer.

Basta-me
Teu pulmão
De irmão
E a gratidão
Que sempre
Me traz.


Obs: Obra de Giacometti.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Saudades



No frio,
Sinto cada calafrio
De saudades.

Sinto
Cada desejo alado
De te ver.


Arrecado assim
Da noite cada secreto
Recado amoroso,
Sem nada
Que me desconcentre de ti.

Pois longo
É o amor
E longa é a alegria,
Enquanto a palavra cria
Menos sensação
De distância.

Basta a palavra,
Eis a centelha
Para mais um beijo.


Obs: Obra de André Kertész.

Dedico à minha doce Jana.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Meu pai


Meu pai,
Chamar-te
Assim
É uma benção...
Coração é alma,
Alma é coração.

Meu Pai,
Chamar-te
Assim
Alonga a minha ternura...
Nada em mim deturpa
Teu doce olhar.

Meu Pai,
Chamar-te
Assim
É ser de novo infância...
Profunda aliança
Entre teu sono e o meu.

Chamar-te
Assim
É não haver
Fim no amor.

Chamar-te
Assim
É sentir um eterno
Perfume de jasmim.

Chamar-te
Assim
É ver no sim
Da vida um sim.

Chamar-te
Assim
É sempre ouvir
Com alegria
O timbre de tua voz.

Chamar-te de meu pai
Não só me traz paz:
Faz vasto
O que se basta
No mundo.

Pois sei de
Nossos reencontros que
Jamais se desencontram.

Pois sei de
Nossas alegrias que
Sempre se rearranjam.

Pois sei de
Nossos olhares que se contemplam
Plenos do mistério
De existir.

Oh, Pele querida do qual sou feito!

Oh, Temperamento semelhante do qual sou feito!

Oh, Bondade única do qual sou grato admirador!

Meu, sempre meu, pai...


Obs: Obra de Rembrandt.

sábado, 21 de abril de 2012

Pandinha


Oração minha,
Tu serás plena
E toda voltada
Para a Pandinha.

Para que haja paz
No olhar dela,

Serenidade
Na respiração,

Vontade de mãos
No frágil dorso,

Ternura na audição
De cada voz humana,

Gratidão por tanto
Amor em comum,

Enquanto já
Não se sabe mais
O que há de

Dia e Noite

Em toda doçura
Da memória,
Em todo latido
Dado com gosto,
Em todo balançar
De calda
Na direção do infinito...


Obs: Obra de Goya.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Tão longe, tão perto



Tão longe, tão perto,

O rumor de tua caneta
Ao tomar nota
Possui algo de melodia.

Olhar tão zeloso
Por compreensão da matéria
Não há igual ao teu.

Posso ver sim
A delicadeza com que aponta
Um singelo lápis.

Até a maneira como
Você se encolhe de frio,
Percebo.

Nem o modo doce
De você olhar as horas
Escapa-me.

Se a professora brinca,
Vibro
Com teu sorriso.

No intervalo,
Seguro o elevador
Para que você entre.

Deixo do pão
Mais recheio para ti
Do que para mim.

Na lousa, quando voltamos,
Onde você faz corações,
Eu faço as flechas.

Já na saída,
O ar noturno acolhe
O que há de dama-da-noite
E o que há de tua pele.

E assim sonho
Que estou sempre por perto,
Mesmo distante.


Obs: Obra de Chagall.

Dedico à minha doce Jana.

sábado, 14 de abril de 2012

Para os amigos com os quais falhei



Na vergonha,
Comum a quem
Falha,
Não se oponha
A tua própria
Natureza.

Olhos
Ainda serão olhos.

Boca
Nada será
Senão pueril boca.

Ouvidos
Jamais sairão
Do mesmo fatídico
Lugar.

Nariz
Respirará,
É certo,
Por um triz.


Pele,
Por mais que revele
Rubor,
Será sempre
Cor do amor
À amizade,
Cor
Que mescla
Olor
E pedido de desculpas...


Obs: Obra de Velásquez.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Um beijo logo cedo



Caso seja possível
O nosso encontro domingo,
Será um prazer
Tê-la desde cedo comigo.

Ver, portanto, o fulgurante
Sol
De teus olhos
Amanhecer em mim.

Ou ainda,
Confundir teu riso
Com o chilrear
Dos pássaros.

Assim,
Uma vez mais,
Refeito de amor,
Possuir-te num beijo
Em que te tenho,
Como sempre,
Por inteiro.

Obs: Obra de Klimt.

Dedico à minha doce Jana.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Somente




Noite alguma
Deslumbra sem tua voz.

Luar é apenas detalhe
Sem o entalhe de teu doce perfil.

Vento jamais me reinventou
Algures sem pele a pele contigo.

Paraíso
Sem teu sorriso, não há.
Primavera
Sem tua veracidade, não há também.

Solo onde haja consolo,
Ardor onde haja amor,
Sorte onde haja norte,
Empatia onde haja alegria,
Sementes onde haja mentes,
Somente um amor como o nosso possui.


Obs: Obra de Chagall.

Dedico à minha doce Jana.

Depois de toda chuva



Depois de toda chuva,
A noite refresca-se
De tal modo que me alegra imaginar
Tua beleza ao longo das ruas.

Tua singela delicadeza
De respirar o perfume da dama-da-noite,
Sem falta do bálsamo de tua boca:
Cujo sorriso deliro.

Pleno e sereno
Do que não vi, mas sei:
Luar que as nuvens não escondem
Sem algo revelarem...


Obs: Obra de Goeldi.

Dedico à minha doce Jana.

domingo, 8 de abril de 2012

Almofada que me deste



Não se ama o mar da vida,
Tal como amo,
Sem amar longamente
Teu doce amor.

Assim como,
Jamais durmo em paz
Sem me agarrar
Ao ardor da almofada
Que me deste,
Já que sempre me deixa
Mais perto de ti.

Permaneço assim
Absorto em teu
Maravilhoso perfume
Que ali perdura:

Pleno de lembranças
Eternas,
Porque tudo é eterno
Quando se ama
Do fundo da alma.

Tal é o êxtase
Que tenho contigo
A cada troca de olhares,
De palavras,
De carícias ariscas,
De beijos loucos
E sorrateiros.

Pois somos,
Por toda vida,
Mútuos de sentimento,
Unos de alegria e respeito.


Obs: Obra de Matisse.

Dedico à minha doce Jana.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Bravura de Manuel



A obra de Manuel Álvarez Bravo
Deslumbra-me
Sem que lhe conheça bem,
Sem que saiba tudo a seu respeito.

Tal o peito aberto
Com que se defronta com a vida.

Sem travas no olhar,
Sem medo da cruel amarra
Das circunstâncias.

Cada foto desponta
Com lúcido vigor.
Além de prolongar sempre
O que há de duradouro
No efêmero.

Para tão belo trabalho,
A vida não possui desterro.

Até mesmo,
O que se apresenta
Como “inanimado”
É, na verdade,
Pleno de vitalidade.

Sabe assim que o devaneio
Vem porque nada era capaz de impedi-lo.
Vem sim porque era extremamente necessário.

Assim como, qualquer acidente da existência
Não é mero acidente:
Há drama ali.
Há, ali, as tramas do destino.

Pois jamais lhe falta esmero no sutil flagra,
Nem tampouco lhe falta alegria no singelo lirismo.

Será que já vi alguma vez Sol que traga mais promessa
De inaudito?
Ou dito de outra forma:
Será possível distinguir na sua luz
O que é temporal ou atemporal?

Pois não posso me assombrar
Com seus clarões eternos sem as devidas sombras
Já não mais mutáveis...

O que, sem dúvida, me oxigena a alma,
O que, sem dúvida, me traz algo de paradoxal,

Como se cada foto fosse a descoberta
De meu destino –
Uma ponderação do imponderável.

Que apenas a pausa da alma,
Que apenas o fim temporário
Da vertigem
Consegue, com efeito,
Recuperar de doce enlevo,

Desde que haja
No mundo
O bravo mundo de Manuel,
Que sempre há, de algum modo, em todos nós...




Obs: Obras de Manuel Álvarez Bravo.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Tuas palavras




Tuas palavras
São sempre
Doce alento

Leveza
É o que sinto
A cada momento
Contigo

Sem vento
Em que não haja
Teu perfume

Sem enlevo
Em que não haja
Teu sorriso

Sem deixar de ver
O que sempre vejo:
Teu amor

Sem sequer um momento
Sem um realejo
De pensamentos de bem querer


Obs: Obra de Braque.

Dedico à minha doce Jana.