sábado, 30 de junho de 2012

Aquele olhar teu





Aquele olhar teu
Que não pude ver
Enquanto dirigia,
Já que,
Em alguns momentos,
A atenção ao trânsito
Não me permitia –
Sim,
Aquele doce olhar
Todo voltado para mim
Tinha alguma duração
Que na verdade não possuia fim;
Respirava o que havia
Nele de puro jasmim.

Pintava o que decerto
Não pude ver
Senão na imaginação.

Tal como algo de praia
Em cujos pés eu sentia alegria,
Eis que vinha o mar com sua brisa,
Eis que vinha teu olhar
Com indissociável ternura.

Olhar que se soma ao encanto
Dos outros olhares teus
Que sempre vi com tanto encanto.

Olhar que por não ter visto,
Mas pressentido –
Amo...


Obs: Belo olhar de uma imagem de Matisse.

Dedico à minha doce Jana.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Quando o amor é amor



Quando o amor é amor,

Não vem sem algo de dor.

Mesmo aquele tão querido e distante olor,

Dói.

Ver, na foto, sempre aquela bela e doce cor 

Dos lábios - dói.

E se dói é porque é amor,

E se dói é porque não posso conter o ardor.

O que será então de meu sentimento 

Em tal pungente vórtice?

Será força amorosa,

Bem sei -

Já que reverbera em cada braçada.

Com suor, com água salgada,

Com sede e decerto mais nada,

Mais nada,

Senão a promessa de ti.

A promessa que jamais cessa de teu amor.

Regressante de brisa,

Alvissareiro de profunda alegria.

Doce meio que tenho de me manter por inteiro.



Obs: Obra de Paul Klee.

Dedico à minha doce Jana.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Maneiras de refletir sobre o medo



O medo,
Na verdade,
É um arremedo
Do nada.
Quanto maior
O seu alcance,
Maior o terror à estrada.
Sem que nela avance
Sequer um visível amigo
Para assim dizer que
Cá a paz está comigo.
Uma vez que em tudo
O que cada olho vê,
Jamais faz do lindo cosmos
Senão um reincidente chiado de TV.

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Medo
É ser daltônico
Do olfato
Quando
A vida exige de nós
Um reconhecimento
Das cores,
Um discernimento
Da variedade
Assombrosa
Ou não
De suas peculiaridades.

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Cedo ou tarde,
Surge o medo:
Não sem alarde,
Não sem seu avesso.

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Vento
Ao longo da alma
Que sempre encontra
Reentrâncias
Por onde penetrar –
Eis o medo.

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Quem possui medo
Sempre se impressiona
Com qualquer barulho
Que venha pleno
De silêncio.

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Medo é um trejeito
Da alma
Para o qual
Sempre se dá um jeito.


Obs: Obra de Munch.





terça-feira, 19 de junho de 2012

Sem erro,




Sem erro,
O que seria
Da flor que tanto cerro
Entre os dedos?

Haveria lugar
Altaneiro
Para o meu canto
De desterro?

Ou algum
Ensejo
Que viesse
Em bons termos?

Sem erro,
Como ter nos olhos
Aquele traço
Desprovido de desconcerto?

Mesmo
O que há de duradouro
Na vida,
Seria do enlevo afeito?

Se houvesse,
Ao menos,
Verdadeira alegria,
Haveria despida de erro?

Quanto de mim
Ainda perduraria
Entre as vicissitudes
Das causas e efeitos?

Deixando-me ou não o destino com meu erro:

Qual onda,
Buscante de mar,
Jamais abdicaria
De seu líquido terreno?

Qual luz
Chegaria plena
A ponto de tudo
Ser, na imperfeição, perfeito?

Qual vento,
Apesar do frio do outono,
Deixaria de ter
Folhas secas de seu leito?

Sem erro,
Teria talvez algum acerto.
Algo de mim,
Estaria realmente por perto?


Obs: Obra de Sergio Larrain. 

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Em outras vidas



Em outras vidas,
Fui o vento;
As nuvens foram
Tua alma,
As nuvens foram
Teu corpo.

Em todos os tempos,
Algo de mim
Inaugurava a luz,
Desde que
Tivesse a ti
De superfície.

Em outras vidas,
Fui feliz jardineiro;
Cuidei, com amor,
De cada pétala
Inerente
Ao teu coração.

Em todos os lugares,
Sei que,
De algum modo,
Somos
O que há de pleno e mútuo
No mundo.

Em outras vidas,
Fui aquele cometa
Que se transmudava
Em doce noite
De tua silenciosa
Cúpula noturna.

Em todos os mares
Do Sul,
Fui contigo,
De mergulho em mergulho,
A alegria pura
Dos golfinhos enamorados.

Em outras vidas,
Fui fugazes cataratas
Que hoje são de tua
Duradoura
E profunda
Foz do Iguaçu.

Em todos os ares,
Fui sim a verdade
Do voo
Que se confunde
Com a verdade
De ti:
Meu horizonte.

Em outras vidas,
Fui a germinação
De teu nome
A me dizer
Porque tenho
Nome agora.


Obs: Obra de Gaguin.

Dedico à minha doce Jana.

domingo, 17 de junho de 2012

Meu querido sobrinho




Devo dizer que o Léo,
Meu querido sobrinho,
É de uma serenidade maravilhosa –
Alegria que surgiu, para a vida,
Quando era apogeu do Sol
No Céu.

Tão belo e pequenino que,
Nos braços da Naty,
Tudo era ternura pura.

E agora que a noite traz o seu véu,
As estrelas clamam por Léo.

A tranquilidade da noite chama
Por Léo.

Uma vez que,
Cães, em paz,
Não latem;
Gatos passam mansos
E não miam.

Assim como
O ninho dos pássaros
Tem a sua melhor hora
Agora.

À medida que Léo
É o novo momento
De enlevo no mundo.


Obs: Obra de Renoir.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Ainda agora




Ainda agora houve por acaso
Na vida
Algo que jamais se finda.
Algo que nem
Sequer destino ou morte
Arrefece a faísca.


Arrisco-me até a dizer
Que tal momento
É sempre a raiz
De meu ser.


Talvez alguma vista
De mar
Que instiga a brisa,
Talvez uma beleza
Na memória revista
Que tanto desazucrina.


Deixai, portanto, apenas ao enlevo
O que há, aqui, de imaginação,
O que há de profundas crinas.


Comigo permanecerá
A minha voz
Que na busca por afinação
Tanto afina, quanto desafina.



Obs: Obra de Van Gogh.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Se dias fossem flores




Se dias fossem flores,
Já haveria um campo inteiro
De alegria florida juntos,

Se beijos fossem estrelas,
Haveria o bastante de fulgor
Para confundir a noite com o dia,

Se candura mútua fosse chuva,
Quem diria que certa vez
Houve sertão no Mundo?


Obs: Obra de Matisse.

Dedico à minha doce Jana.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Nem de todo triste




Na tristeza,
Fico meio
Sem palavras,
Pois tudo o que
Eu mais queria
Era um pouco
De rumo sem névoa.

Névoa esta
Que não me permite
Enxergar com as mãos
O Mundo.

Uma vez que
Tocar algo
Com algum objetivo
É quase sempre
Tocar o vazio.

E entre os dedos
Não fica nada
Senão o frio
Do frio.

Ao menos,
Para a minha alegria,
Tenho o doce
Acalanto
De teu amor,
Que verte
Sussurro em canto
Miraculoso.



Obs: Obra de Van Gogh.

Dedico à minha doce Jana.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Em teus beijos




Em teus beijos
Sempre reencontro
O prazer da vida,

Fato que aumenta
A cada dia,
Assim como
Tudo o que é semente
Nossa se transforma
Em colheita.

Sem receita
Que não seja
Um pouco de chuva
Todo santo dia:
De encanto em acalanto.

Pois ser contigo
Jamais deixa de ser
Um modo belo
De ser comigo mesmo.


Obs: Rafael Sanzio.

Dedico à minha doce Jana.