É justamente assim que quero,
em doce querer, o meu final de ano. Quero-o, como sempre quis, pleno de Chardin.
Na indubitável presença de sua cor, eu bem que o quero. Quero-o, ainda e sempre,
naquela extrema paz diurna, quando tempo e alma são um só. Quando a verdade da
luz se encontra com a verdade de meus olhos. Quero-o, por bem querer, o
frescor da vida ali eternamente presente. Quero-o por que é de tanto querer a
serenidade daquele mundo que logo em meu mundo se torna. Quero-o por que de tão
simples que é, só pode ser meu também. Quero-o por demais perto de mim, para
que sempre abençoe de ternura a minha vida. Quero-o por que a pintura de Chardin
é a minha maneira de ser pouco e feliz, longe de tudo o que me faz menos uno.
Quero-o, sim, como parte latente de minha alma, como parte premente de meu
cosmos. Eis o que quero sem jamais deixar de querer, uma vez que é necessário
quase nada para ser inteiro de pálpebras.
Basta a alegria vaporosa de
um copo com água, na qual o pintor devotou toda a sua arte para engendrar os
limites musicais de tão lírica superfície. Basta o branco inelutável do alho a
conferir ainda mais suavidade de contraponto ao ocre da mesa e da cafeteira.
Basta, no que se basta de deleite e paz, aquele pequeno ramo de flores com que
amo de amor a vida. Para que haja em meu testemunho algum fundo incorruptível
de legitimidade, pois surge no que há de mais pungente em meu coração. Surge por
que a pintura de Chardin urge por mim, seja onde eu estiver. Urge a fazer de
minha urbe recanto de perfume.
Obs: Obra de Chardin.
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