segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Frescor de Chardin




É justamente assim que quero, em doce querer, o meu final de ano. Quero-o, como sempre quis, pleno de Chardin. Na indubitável presença de sua cor, eu bem que o quero. Quero-o, ainda e sempre, naquela extrema paz diurna, quando tempo e alma são um só. Quando a verdade da luz se encontra com a verdade de meus olhos. Quero-o, por bem querer, o frescor da vida ali eternamente presente. Quero-o por que é de tanto querer a serenidade daquele mundo que logo em meu mundo se torna. Quero-o por que de tão simples que é, só pode ser meu também. Quero-o por demais perto de mim, para que sempre abençoe de ternura a minha vida. Quero-o por que a pintura de Chardin é a minha maneira de ser pouco e feliz, longe de tudo o que me faz menos uno. Quero-o, sim, como parte latente de minha alma, como parte premente de meu cosmos. Eis o que quero sem jamais deixar de querer, uma vez que é necessário quase nada para ser inteiro de pálpebras.

Basta a alegria vaporosa de um copo com água, na qual o pintor devotou toda a sua arte para engendrar os limites musicais de tão lírica superfície. Basta o branco inelutável do alho a conferir ainda mais suavidade de contraponto ao ocre da mesa e da cafeteira. Basta, no que se basta de deleite e paz, aquele pequeno ramo de flores com que amo de amor a vida. Para que haja em meu testemunho algum fundo incorruptível de legitimidade, pois surge no que há de mais pungente em meu coração. Surge por que a pintura de Chardin urge por mim, seja onde eu estiver. Urge a fazer de minha urbe recanto de perfume.


Obs: Obra de Chardin.

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