Guardo sob as pálpebras algum
lampejo inaudito muito devido ao insuperável crivo ocular de Robert Frank. Com
tal poder imediato sobre mim que se torna impossível dizer algo sem ardor.
Qualquer coisa nesta estrada que vejo pertence ao meu coração. Nada,
absolutamente nada, me desvia de seu percurso. E mesmo sem sair de minha
cadeira, aventuro-me ante o seu chão de asfalto. Cada palmo à frente dimensiona
a minha alma. E se não o sabia, agora bem sei o motivo de haver, na vastidão, o
mundo.
Que me leva para onde - por
bem ou por mal me pergunto. Pois a lonjura sempre me conjura a perguntar com
algum eco de Fernando Pessoa: para onde vou, uma vez que não sei bem o que sou?
Talvez a pergunta avulta pelo fato desta estrada ser longa sem que eu saiba ao
certo o quanto dos meus passos cumprem todo o seu destino. Nem sei o quanto de
meus rastros prevalecem ali onde tudo é poeira e nada. Mas ao mesmo tempo como
não me embevecer com o vigor cinza que tudo domina? Como não querer ao menos
lançar por um momento os olhos adiante? E quem sabe assim fisgar, mesmo que
quase sem saliva, a frequência lírica do horizonte? E deste modo perpetuar na
caminhada o que há de duradouro na vida, o que há de outrora, o que há de
agora, o que há de devir. Faço desta estrada uma palavra que jamais se escalavra
no tempo. E nada de fato me faltará.
Obs: Obra de Robert Frank.
Belo,belíssimo meu amigo Fábio...você esteve mesmo inspirado nesse texto.Parabéns.Abraço grande
ResponderExcluirFico muito feliz que tenha gostado, querido amigo! Grande abraço, Fábio.
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