sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Robert Frank: vida estrada afora




Guardo sob as pálpebras algum lampejo inaudito muito devido ao insuperável crivo ocular de Robert Frank. Com tal poder imediato sobre mim que se torna impossível dizer algo sem ardor. Qualquer coisa nesta estrada que vejo pertence ao meu coração. Nada, absolutamente nada, me desvia de seu percurso. E mesmo sem sair de minha cadeira, aventuro-me ante o seu chão de asfalto. Cada palmo à frente dimensiona a minha alma. E se não o sabia, agora bem sei o motivo de haver, na vastidão, o mundo.

Que me leva para onde - por bem ou por mal me pergunto. Pois a lonjura sempre me conjura a perguntar com algum eco de Fernando Pessoa: para onde vou, uma vez que não sei bem o que sou? Talvez a pergunta avulta pelo fato desta estrada ser longa sem que eu saiba ao certo o quanto dos meus passos cumprem todo o seu destino. Nem sei o quanto de meus rastros prevalecem ali onde tudo é poeira e nada. Mas ao mesmo tempo como não me embevecer com o vigor cinza que tudo domina? Como não querer ao menos lançar por um momento os olhos adiante? E quem sabe assim fisgar, mesmo que quase sem saliva, a frequência lírica do horizonte? E deste modo perpetuar na caminhada o que há de duradouro na vida, o que há de outrora, o que há de agora, o que há de devir. Faço desta estrada uma palavra que jamais se escalavra no tempo. E nada de fato me faltará.


Obs: Obra de Robert Frank.


2 comentários:

  1. Belo,belíssimo meu amigo Fábio...você esteve mesmo inspirado nesse texto.Parabéns.Abraço grande

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    1. Fico muito feliz que tenha gostado, querido amigo! Grande abraço, Fábio.

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