Ó mãe ancestral, ó mãe
devota como és a todo pequeno ser, ó mãe das mães, plena de recato e cuidados,
ou simplesmente mãe, aqui e agora, cujo sentido é ser mãe, cujo sentido é zelar
pelas pálpebras miúdas de girassol, ou ainda reaver aquela mínima respiração
ante o colo, e assim obter suave consolo na penumbra. Com que alegria calma ser
a calidez daquela pele macia? Quanto esforço é necessário no mundo para existir
justiça, quando de repente ela se oferta através daquele fino tecido de seda
translúcida? Por ventura já se criou maior antídoto para o choro primevo tal qual o acalanto de uma mãe? Na extrema trepidação que é a vida, será que já se
inventou cadência que se compara às mãos maternas a apaziguar o berço?
Ali, no mundo de Morisot,
bem ali na verdade do aconchego materno, na serenidade derradeira das cores, na
atmosfera de sonho e sono latente, naquele mundo tão urgentemente seu, tão urgentemente meu, tão urgentemente nosso a ponto de ser universal, mescla
de clave musical e anjos, mescla de clarinete e algum divino arranjo, prevalece
a paz no seu sentido mais profundo - resposta humana e veemente às guerras, pois o nosso escudo é a nossa fragilidade contra cada absurdo existente. Pois, ainda que
tudo seja incerto, a vida é incapaz de me negar por um instante a virtude
magnânima desta cena. Poder único que possui de se bastar por si mesma, de ser
a benção de um esquecimento diante de tudo e todos, de ser entre uma mãe e um
filho algum paraíso quase indistinto, não fosse a singeleza de um sorriso.
Obs: Obra de Berthe Morisot.
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