quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Em torno do Tempo, em torno de Velásquez




As fiandeiras de Velásquez, enquanto fiam e desfiam o Tempo, são como as musas do atemporal poeta. Trocam entre si mesmas o pólen de suas palavras, bem ali onde penumbra e luz forjam uma sinfonia. Nenhum movimento, nenhuma pausa é ali em vão. Pois naquele cosmos uno de rubores, alegrias e mansidão tudo é possível. E nada no mundo auferi mais pureza à vida que aqueles pés descalços e sem sobressaltos.

E quanto mais me dedico a ser luz que a janela e a cortina filtram, menos meu destino desatina, menos minha fé se abala. Pronto a ser em cada feminino rosto a superação dos desgostos, prestes a ser em cada suave mão que urdi alguma verdade que desaturdi. Ser o pouco que sou no muito que vejo das cores. E se me for permitido, serei sempre este universo singelo de afeto, serei sempre esta humana delicadeza de Velásquez. Agora e sempre, parte essencial de mim. Fruto pleno de sumo ao qual me agarro com gana. E desde que ainda haja para sempre aquela roda que fia, por certo por toda vida saberei o que é vida, no seu sentido de milagre e dádiva, no seu sentido de possibilidade infinita.


Obs: Pintura de Velásquez.

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