As fiandeiras de Velásquez,
enquanto fiam e desfiam o Tempo, são como as musas do atemporal poeta. Trocam
entre si mesmas o pólen de suas palavras, bem ali onde penumbra e luz forjam uma sinfonia. Nenhum movimento, nenhuma pausa é ali em vão. Pois naquele cosmos
uno de rubores, alegrias e mansidão tudo é possível. E nada no mundo auferi
mais pureza à vida que aqueles pés descalços e sem sobressaltos.
E quanto mais me dedico a ser
luz que a janela e a cortina filtram, menos meu destino desatina, menos minha
fé se abala. Pronto a ser em cada feminino rosto a superação dos desgostos,
prestes a ser em cada suave mão que urdi alguma verdade que desaturdi. Ser o
pouco que sou no muito que vejo das cores. E se me for permitido, serei sempre
este universo singelo de afeto, serei sempre esta humana delicadeza de
Velásquez. Agora e sempre, parte essencial de mim. Fruto pleno de sumo ao qual
me agarro com gana. E desde que ainda haja para sempre aquela roda que fia, por
certo por toda vida saberei o que é vida, no seu sentido de milagre e dádiva,
no seu sentido de possibilidade infinita.
Obs: Pintura de Velásquez.
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