Desde sempre me pergunto: como ser parte integrante desta luz
de Vermeer? De que modo pertencê-la sem perder a integridade de seu silêncio?
Com que suavidade, por meio das palavras, hei de ter - para ser apenas sopro? É
preciso ser sutil como uma abelha para absorver o seu néctar. Ou senão ser
frescor da espuma do mar que se esvai qual pólen de brisa. Mesmo a calidez do
beijo jamais deixa de ser um testemunho cifrado de tal claridade. Com algum
poder inevitável de auferir sentido aos olhos. De uma cor tão singela que
somente o acalanto do ninho pode ter. Qualquer milagre é mero milagre ante a
verdade latente do pincel de Vermeer. Como é possível uma tamanha delicadeza de
luz permanecer imperturbável à realidade corrente? Gostaria muito que a
tessitura de minhas pálpebras durassem tanto quanto a cor, o traço, o apelo
musical de Vermeer duram. Gostaria que meu sorriso guardasse uma pequena porção
de sua paz. E que minha sombra não desprezasse nunca as sombras ali ungidas.
E que o impalpável deste quadro seja sempre a minha companhia
derradeira, que faça de meu sono um hino em meio à surdina da volúpia. Pois
longa é a sua maneira de ser epifania que me fana, de ser alegria de fato
cristalina. Momento único para ser cosmos olhos adentro. Num elo entre o que há
em mim e o que há de luz por mim. Verdadeira manifestação do Deus que há na luz
de Vermeer. Aquele justo momento em que espaço e tempo são oniscientes de
ternura. A ponto de haver para melhor ardor do mundo - insuperável cor.
Obs: Obra de Vermeer.
Vermeer é um ser inexplicável, inigualável, impossível de se entender, devemos apenas vislumbrar suas obras e ficarmos felizes por termos a sensibilidade de captar este ato tão sublime, onde o tempo e o espaço são apenas meros artifícios para incorporar o que não se pode incorporar. Este é Vermeer.
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