Por mais que eu reconheça
sempre o mundo por meio dos olhos, nem tudo aquilo que vejo se revela de
imediato. E quando há o que se revelar, mais uma vez percebo que se afirma e
reafirma mais como mistério do que como resposta. Posto isto, ou deposto por
causa disto, não posso negar a urgência de ser por um momento os olhos do autorretrato
de Gianguido Bonfati, pois somente alguns pássaros urdem o próprio ninho com
tanto esmero. Tal é a aliança de feixes que ali se preserva. Magnânima sensação
de haver olhos que é - a despeito de tudo, cuja fiança para olhar para mais
além jamais se perde para o nosso mal ou bem.
Algo, por sinal, me diz que
aqueles olhos são como o vórtice de um buraco negro - pronto para absorver a
luz sem condená-la, na consciência, ao esquecimento, enquanto, aqui e ali,
demonstra o seu eixo de atração sobre os traços ao redor. E há sem dúvida em
seu empenho gráfico a aventura primordial de ser linha e sina ao mesmo tempo,
de modo a reivindicar através deste vestígio pleno de voltagem toda a condição
para haver vida, que se apreende tão bem no dom por ser lábios de volúpia sonhadora.
E, se por ventura acaba por se tornar essencial ser, em algum momento, traços evanescentes, talvez
seja pelo fato de qualquer rosto humano, assim como o dele, fazer parte
irrevogável do deserto em movimento que há em tudo.
Obs: Autorretrato de Gianguido Bonfati.
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