quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

O que se pode de ode e vinho na poesia




Sem que eu me esquive do dom de ser poema, de repente me surge na mente a pintura de Veronese. Plena de beleza, enquanto empreende na tela olhar dos mais pungentes. Pois mostra a lucidez de vislumbre de um homem diante do vinho. Sem temores, nem embriaguez incendiária, qual fogo brando que se regozija de ser fogo, em parte brasa, em parte cinzas, durante a alegria de ser sobriedade louca, a tal ponto que haja, entre a visão e o cálice, um lince prestes a forjar uma ideia. Toda a postura se articula com volúpia, com translúcido equilíbrio entre corpo e alma, para não de outro modo compreender a luz que penetra e, ao mesmo tempo, transmuda a cor do vinho em doce destino.

Quem senão Veronese para plasmar na vida um mundo tão infenso aos fantasmas da alma? Recorre assim ao que há de mais infinito de cintilante, de mais íntegro e impetuoso, justamente longe de tudo o que é sem cor e sina. Nenhuma cor púrpura vacila ante os seus pincéis, nenhum detalhe escapa no belo apuramento da linha que aninha as formas com tanto esmero. Suscita em meu ser tal alegria que nada me falta, a não ser me entregar cada vez mais à verdade ali latente, cujo assentimento entre eu e o magnetismo da obra se perpetua no tempo. Que haja sempre neste olhar o relâmpago que jamais cessa, relâmpago que, por sinal, anima os sentidos da alma, presença que não procrastina a realidade.


Obs: Obra de Veronese.

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