Saskia, oh bela Saskia, o
que sei de mim sem a ternura de tua pele de jasmim? De que modo posso ser
pincel, uma vez que a tinta esfria a chama caso não haja mais a tua presença? A
que ponto da casa vou, eu que já não sei nada de teus passos? Qual a melhor luz
para o vermelho, quando tudo é exílio para os teus lábios? Qual o tom suave de
rosa, sem que seja possível tocar a tua face?
Como ser por um momento o brilho cálido de tuas humildes joias, que por
tanto tempo foram tácteis às mortais mãos que sou? Quanto daria hoje para ser
mais demorado nas carícias feitas sobre a tela?!
Pois assim jamais deixaria
de ver e rever o quadro na primeira e derradeira luz do dia. De meu parco pão
me alimentaria sem senão. E cada mecha de cabelo seria motivo de benção na tela. Enquanto nenhum sol me deixaria longe da verdade de tua vida que aqui viveu, de
tua vida que aqui amou, de tua vida que foi bem aqui, por sinal, este sorriso que
agora, tal como outrora, pintaria novamente com tanto encanto. Eis que não
posso chorar, mas choro. Eis que não posso sorrir, mas sorrio. Tudo o que eu
venha a fazer se mescla às nossas memórias. Seja no momento de ser peregrino das
cores na paleta, seja no momento de ter, frente a frente, comigo o cavalete na
mesma altura que eu lhe tinha nos braços. Na mesma altura que o mundo afinal me
deu teus doces olhos. Na mesma altura em que eu era pincel, e você não mera
pintura...
Obs: Obra de Rembrandt, a sua amada Saskia.
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