sábado, 26 de janeiro de 2013

Em seus extremos, em seu centro - o Amor




Quando algum filme toca fundo, é sempre duro fazer deste cosmos que se esquiva palpável mundo. É sempre duro fazer do que há de mudo latente inequívoca palavra. Falar de "Amor", de Michael Haneke, é mais do que falar. É necessário murmurá-lo para compreendê-lo. Ou até mesmo apenas "respirar" sobre a pele da audiência para trazer com inteireza tão pungente relato. Pois é apenas, aqui e ali, que o testemunho se torna verbo. O que predomina é a perturbadora intermitência do silêncio e de seus sofridos hiatos, que de algum modo minam aos poucos a serenidade do casal, mas jamais a ternura por demais humana, mas jamais a saudade por demais verdadeira dos tempos idos. Ela e ele, por certo, já são idosos, enquanto a morte arromba os trincos por dentro dela, a tal ponto que nem mesmo o mais hábil dos ladrões é capaz. Rouba assim, pouco a pouco, e não menos que de repente, as janelas de seu lar, a alma. Rouba, não há dúvida, qualquer possibilidade de vento. Embora haja sempre o marido por perto e presente, justamente o que lhe resta de frestas ainda não vedadas.

Qual não é portanto o sofrimento deste homem? Que não poupa esforços para mantê-la viva, nem deixa de protegê-la de tudo e todos. O que ele deseja é somente, uma vez mais, sentar ao lado dela na mesa, para quem sabe reconhecer de novo o olhar de sua esposa, não mais o olhar de juventude, não mais o olhar de sol a pino, mas sim o olhar crepuscular, que não inflama, mas consola. Aquele olhar que lhe povoa de estrelas, aquele olhar que não se importa qual venha a ser a estação da Lua, uma vez que o que vier é doce lucro. Aquele olhar que caso venha com um sorriso tudo acalenta, qual jasmim noturno, qual chuva alentadora, qual vento que pouco importa o porvir. É só o que ele pede para o que ainda há de cinco sentidos. Afinal, a vida sempre será vida, embora a morte jamais deixe de ser morte. Afinal, a vida decerto possui o seu fim, assim como a morte possui o seu indiscernível começo. Quer se queira ou não, tanto em morte quanto em vida, nada resta senão amar e calar, por mais que a morte seja um calar enquanto se ama...


Obs: Foto do Google.

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