Por seus olhos, meu caro
senhor, sou por um momento memória e vento. Por seus olhos posso ver o que há
de carisma no futebol. Posso saber por que o drible fascina, por que o gol é de
todo jogador beleza e sina. Posso sentir o quanto passou a mão nos cabelos por
causa do gol perdido. Ou quantas e quantas vezes chorou lágrimas frias na
derrota e lágrimas quentes na vitória. Bem sei que os seus passos já não são
mais tão rápidos, mas ainda vibra ao sentir nos pés a bola de seu próprio neto.
E é só pôr os pés no estádio que alarga em si mesmo a alegria de ser onda em
meio ao mar da torcida. Eis que por certo a sua voz, na hora do gol, quebra
qual doce espuma. E a cada bonito lance respira o ar como se marinho fosse...
Posso ver e rever em sua
serena humildade a leveza quando menino ao pegar a bola na hora dos sinos. E de
que maneira lustrava a bola com algo semelhante à alguma cera de carro. Posso
talvez antever o cuidado com que mirava o gol, com olhos de águia, antes de
bater na direção do lar da coruja. Posso imaginar o seu sinal de fé e devoção
antes e depois de entrar no campo. E ainda pelo rumo do vento ter a sabedoria
de qual o melhor traquejo para bater na bola. E no cara e coroa ter a paciência
de reconhecer o lado do campo com menos sol nos olhos. Posso ouvir a substância
fluida de sua voz ao comentar aquele gol que, por toda vida, lhe arrebatou. Com
uma bondade de quem muito viu o que viu, de quem muito viveu o que viveu. De
tal modo que fica no coração a grata lembrança de conhecê-lo, de ver por seus
olhos o que também quiça foram meus olhos. Por ser mão amiga de suas mãos.
Homem fraterno que perdura com ternura em minha alma, e que sem dúvida, se
pudesse voltar no tempo, me ensinaria agora a melhor maneira de tocar na bola.
A melhor maneira de ser tórax erguido, e de dar uma bela arrancada. Pudera eu também voltar a jogar,
e ser as chuteiras que foram suas, e beijar a camisa de seu time com o mesmo
gosto. Sei apenas que aconteça o que aconteça a bola de capotão que foi sua
agora mesmo eu remendaria a costura.
Olá, Fábio
ResponderExcluirComo sempre um belo texto. O tema é diferente, mas a poesia é a mesma. Felicidades meu caro amigo. Áurea Denize.01/02/2013
Fico muito feliz que tenha gostado de meu poema em prosa, Áurea! Grande abraço, e tudo de bom para ti! Fábio
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