Entro sem ser notado, mero acaso numa não mera churrascaria, e o fato é que de fato estou com fome. Meu nome? Que sei de meu nome nestas horas? Tudo bem que seja ao meio-dia, que seja... Se algo mora em meu estômago, é o trinado da coruja. Ou algum sino que perdeu o dom de seu som, bem quando é para ser som. Se eu não tenho nome, que diria eu da minha fome? Que nome daria ao sem nome da fome? Estou numa churrascaria cuja alegria da carne está no prato ao lado. Não no meu prato. Jamais no meu prato. No meu mísero prato só há salada. De cores, de muitas cores, para mim de luto. Com molho rose, que dá algum sabor, não duvido: de luto. Como poderia cortar com veemência tal lúgubre cenário? Somente se suculento fosse, se pleno de gordura. Não assim. Faz favor! Como olhar para o meu próprio prato? Com todos os dentes afiados que tenho na boca? Dentes capazes de qualquer corte, menos o corte deste alface. Dentes vorazes, e sem serventia. Não para a serventia deste alface. Ainda procuro misturar o molho rose, sem sucesso, sem nenhum sucesso. Quanto mais misturo, mais não me aturo no gesto. Quero o meu destino como sempre quis: carnívoro. E tudo o que posso no momento é esta desolada salada. Que canto da churrascaria sento? Nem ao certo me lembro. Nada lembro senão o sinal vermelho em cima da mesa que diz: nada de carne. Sim, nenhum tipo de carne. Salada à vontade, mas não carne. Uma mesa de salada farta, e provavelmente o meu enfarte. Uma mesa inteira de salada, e eu à beira do abismo. Uma mesa de qualquer possibilidade inaudita de salada, e eu sei o quanto maldita. Saladas, saladas, saladas... Um corredor completo delas: o corredor da morte. Procuro no meu lugar algum lugar para mim mesmo: não encontro. O problema é que não encontro a mim mesmo. Sentar é um fato comum, pegar no garfo e na faca é comum, incomum é a salada. Na calada chance de ser prato, não me convence. E enquanto tudo à volta é carne, enquanto tudo à volta fumega, meu prato me nega. Prato onde não há ação e reação. Prato nem mesmo com um simples coração de galinha. Prato cuja fé não existe em ser prato. Prato nem com convicção do primeiro ao quinto ato. Prato rico no que quer que seja, em qualidade de vida, e no que você mais quiser. Para mim este prato é um recado, um mau recado, que o meu estômago ouve surdo, quando tudo é um pecado de não haver carne no meu prato.
sábado, 8 de junho de 2013
Melancolia na churrascaria
Entro sem ser notado, mero acaso numa não mera churrascaria, e o fato é que de fato estou com fome. Meu nome? Que sei de meu nome nestas horas? Tudo bem que seja ao meio-dia, que seja... Se algo mora em meu estômago, é o trinado da coruja. Ou algum sino que perdeu o dom de seu som, bem quando é para ser som. Se eu não tenho nome, que diria eu da minha fome? Que nome daria ao sem nome da fome? Estou numa churrascaria cuja alegria da carne está no prato ao lado. Não no meu prato. Jamais no meu prato. No meu mísero prato só há salada. De cores, de muitas cores, para mim de luto. Com molho rose, que dá algum sabor, não duvido: de luto. Como poderia cortar com veemência tal lúgubre cenário? Somente se suculento fosse, se pleno de gordura. Não assim. Faz favor! Como olhar para o meu próprio prato? Com todos os dentes afiados que tenho na boca? Dentes capazes de qualquer corte, menos o corte deste alface. Dentes vorazes, e sem serventia. Não para a serventia deste alface. Ainda procuro misturar o molho rose, sem sucesso, sem nenhum sucesso. Quanto mais misturo, mais não me aturo no gesto. Quero o meu destino como sempre quis: carnívoro. E tudo o que posso no momento é esta desolada salada. Que canto da churrascaria sento? Nem ao certo me lembro. Nada lembro senão o sinal vermelho em cima da mesa que diz: nada de carne. Sim, nenhum tipo de carne. Salada à vontade, mas não carne. Uma mesa de salada farta, e provavelmente o meu enfarte. Uma mesa inteira de salada, e eu à beira do abismo. Uma mesa de qualquer possibilidade inaudita de salada, e eu sei o quanto maldita. Saladas, saladas, saladas... Um corredor completo delas: o corredor da morte. Procuro no meu lugar algum lugar para mim mesmo: não encontro. O problema é que não encontro a mim mesmo. Sentar é um fato comum, pegar no garfo e na faca é comum, incomum é a salada. Na calada chance de ser prato, não me convence. E enquanto tudo à volta é carne, enquanto tudo à volta fumega, meu prato me nega. Prato onde não há ação e reação. Prato nem mesmo com um simples coração de galinha. Prato cuja fé não existe em ser prato. Prato nem com convicção do primeiro ao quinto ato. Prato rico no que quer que seja, em qualidade de vida, e no que você mais quiser. Para mim este prato é um recado, um mau recado, que o meu estômago ouve surdo, quando tudo é um pecado de não haver carne no meu prato.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário