De singelas mãos canhotas. Com aspecto sofrido e
roxo. O garoto comia a pizza. Que o pai zelosamente fatiou para aquelas mãos
tortas. Canhotas pelo jeito de ele pegar no garfo e na faca. Canhotas embora
houvesse mão direita e mão esquerda. Ainda assim canhotas. Desde quando
sentaste ao meu lado te percebi. De olhar cândido. De cílios remelentos. E em
nenhum momento me dirigi a ti. Mas quanto de ti sou eu? Quanto? Quanto de tuas
feridas são minhas? Feridas ao longo do corpo, na nuca, nos lábios de voz
tíbia, e talvez generalizadas qual pequeno e digno leproso. Feridas que
talvez impeçam o pai de lhe dar um forte abraço. E de pô-lo a ninar no acalanto
dos braços. Feridas, uma a uma, sem nenhuma expectativa de sair da cadeira de
rodas. Que ele conduz com o dorso da mão. Da mão destra, mas canhota. Da mão
que gostaria de girar pião. Da mão que gostaria de se sujar no chão. Da mão que
segura, como pode, com a outra mão o copo de refrigerante. Ambas canhotas, e
que eu gostaria de levar por algum parque, onde houvesse sol e vento. Onde
houvesse oportunidade de serem mãos. Soltas por toda a parte. Simplesmente,
soltas. Quem sabe com o intuito de empinar uma pipa? Colorida de doce sina.
Queria apenas que as suas mãos fossem mãos. E quem disse que não são? Quem
disse que, por mais que esconda as mãos debaixo da mesa, não sejam mãos? São
mãos sim. Pequenas mãos. Mãos na medida do possível mãos. Mãos com toda a
dificuldade do mundo, entretanto, mãos. Mãos que uma hora acenaram para mim.
Pelo fato de serem mãos. Mãos canhotas, assim como a minha alma é canhota. Mãos
frágeis, do mesmo modo que a minha vida é frágil. Mãos cuja alegria está em
serem mãos. E garanto que jamais em vão. Mãos que talvez rezem durante a noite - em súplica.
Mãos que querem o rosto de seu próprio pai. Mãos que para todo o sempre serão
mais mãos do que muitas mãos. Mãos de uma ternura miraculosa, pois por um
momento na vida nasceram para serem mãos. Mãos, singelas mãos canhotas: para as
quais devo uma inteira vida devota. Por serem mãos.
Lindos versos, Fábio!
ResponderExcluirUm grande abraço,
Áurea Denize