De minha saída ao meu destino parto de Camocim. Pacata
cidade, sim. Cidade onde o meu avó nasceu. E nela já a brisa, e nela já os
céus. Conosco, o bugue que será nosso guia. Que logo chega ao lugar das balsas,
enquanto a água esmeralda salta aos olhos. Balsa, nem comprida, nem miúda, em
que apenas agente cabia. No som do galho longo que servia de remo alguma
melodia. Que o dia, que a hora pedia. De um ponto ao outro, pouco a pouco um
quê de ventania. E minha mania de não lembrar para que lado penteei os cabelos.
Que hei de saber, se só sei das pálpebras? E nelas o que ainda prevalece de
esmeralda... Eis que chego com meus pais à Tatajuba. Súbita maneira de ser
infinito e dunas. E numa sequência de sobes e desces nada nos entristece. Primeira
parada: Lagoa da Torta. Que me reporta à necessidade de sanar a fome. De que
modo? Com suculento peixe. Que vem cortado ao meio. E basta uma colher para se
tirar o filé. Sem nenhum espinho. Ah, se toda a elaboração de um texto fosse
tal qual a facilidade de apreender um filé como este - sem nenhum espinho...
Pós almoço, mais viagem, e nela a candura da voz de uma
contadora de estórias da região. "As dunas soterraram a cidade. Somente
não soterraram a minha memória", enfatiza com mansidão nos olhos. Mais
balsa: desta vez ao longo do Rio Guriú. Com muito mangue e sutil relampejar das
águas. Quando em Jericoacoara estamos de imediato sumiu o que há na vida de
insano. Dos meus anos de tumulto nada sobrou. O que resta é a alegria de ser
mar e mundo. Vamos então à Pedra Furada às duas da tarde. Um furo que o oceano fez
às surdinas. Depois, no caminho à pousada, uma árvore que repousa a juba no
chão da areia - Árvore da Preguiça. À noite, vamos à parte das lojas e bares, e
de repente por onde passamos um solitário cantor, sem viva alma no
restaurante, canta com o intuito de ter como mirante ao menos o que se
apresenta diante do coração. Com mortiças luzes, ariscas a qualquer
entendimento que não se faça por meio do enlevo. Minha memória é curta, mas me
basta de ternura. Manhã seguinte voltamos para Camocim sentido Parnaíba. E em
nós presente nos chinelos um anelo arenoso com aquela viagem. De algum modo
plenos de saudade.
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