sábado, 8 de junho de 2013

Dos olhos à Jericoacoara

De minha saída ao meu destino parto de Camocim. Pacata cidade, sim. Cidade onde o meu avó nasceu. E nela já a brisa, e nela já os céus. Conosco, o bugue que será nosso guia. Que logo chega ao lugar das balsas, enquanto a água esmeralda salta aos olhos. Balsa, nem comprida, nem miúda, em que apenas agente cabia. No som do galho longo que servia de remo alguma melodia. Que o dia, que a hora pedia. De um ponto ao outro, pouco a pouco um quê de ventania. E minha mania de não lembrar para que lado penteei os cabelos. Que hei de saber, se só sei das pálpebras? E nelas o que ainda prevalece de esmeralda... Eis que chego com meus pais à Tatajuba. Súbita maneira de ser infinito e dunas. E numa sequência de sobes e desces nada nos entristece. Primeira parada: Lagoa da Torta. Que me reporta à necessidade de sanar a fome. De que modo? Com suculento peixe. Que vem cortado ao meio. E basta uma colher para se tirar o filé. Sem nenhum espinho. Ah, se toda a elaboração de um texto fosse tal qual a facilidade de apreender um filé como este - sem nenhum espinho...


Pós almoço, mais viagem, e nela a candura da voz de uma contadora de estórias da região. "As dunas soterraram a cidade. Somente não soterraram a minha memória", enfatiza com mansidão nos olhos. Mais balsa: desta vez ao longo do Rio Guriú. Com muito mangue e sutil relampejar das águas. Quando em Jericoacoara estamos de imediato sumiu o que há na vida de insano. Dos meus anos de tumulto nada sobrou. O que resta é a alegria de ser mar e mundo. Vamos então à Pedra Furada às duas da tarde. Um furo que o oceano fez às surdinas. Depois, no caminho à pousada, uma árvore que repousa a juba no chão da areia - Árvore da Preguiça. À noite, vamos à parte das lojas e bares, e de repente por onde passamos um solitário cantor, sem viva alma no restaurante, canta com o intuito de ter como mirante ao menos o que se apresenta diante do coração. Com mortiças luzes, ariscas a qualquer entendimento que não se faça por meio do enlevo. Minha memória é curta, mas me basta de ternura. Manhã seguinte voltamos para Camocim sentido Parnaíba. E em nós presente nos chinelos um anelo arenoso com aquela viagem. De algum modo plenos de saudade.

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