quarta-feira, 29 de maio de 2013

No meio do tráfego, um momento de voz




Dia da data em que pela primeira vez conheci a minha namorada, pego um inferno de trânsito ou um trânsito dos infernos? Ora, o que posso dizer é que o pego. Tentei até mesmo sair às 7:30 de casa para ver se o fogo era morno ou intenso, de fato era intenso. Bem sei disto quando subo uma rua que dá na Domingos de Moraes: desde ali trânsito. Moema? Trânsito. Vereador José Dinis? Trânsito. Sem escapatória, liguei para o meu amor, e disse que pelo jeito poderia demorar mais do que o esperado. Embora numa outra segunda eu tenha ido em meia hora à sua casa. Consigo chegar à Av. Santo Amaro: tudo parado, e por mais de vinte minutos não saia do lugar. Para mandar longe o meu fastio, coloquei Elis Regina no meu aparelho. E no que cantei, mesmo sem ritmo, era mais ritmo que o ritmo da rua lá fora. Liguei outra vez para ela: "Meu amor, ainda vai demorar aqui. E vou ao banheiro no McDonalds, está bem?", de algum modo afirmei.


Quando estaciono, e depois quase já dentro da lanchonete, travo uma conversa com o segurança. E ele conhece tudo de tráfego na região. Até pergunto se haveria algum outro caminho que não passasse pela ponte, ele reflete, examina, e diz: "Bem, meu amigo, para você não há outra saída...". Rapaz magro, de cara e alma limpa, todo de terno impecável, cabelo "baixinho", e fala simples, mas bem articulada, seu nome "Gilvan". Pois não é que eu e ele logo de cara mantivemos uma amizade cordial? Tanto que por mais de três vezes (quando fui embora) um apertou a mão do outro, num gesto muito humano e alegre. Gilvan, gosta de falar, e eu sei como e quando ouvir, de tal forma que, se normamente não se dá voz ao segurança, eu naquele momento o ouvia pelo fato de toda a voz, mesmo a mais humilde, ter o seu lugar e tempo, basta que haja empatia e justa sinceridade. Falei para ele que eu sou jornalista, e perguntei se numa próxima vez poderia entrevistá-lo: "Claro, é só mudar o meu nome", ele sugere. Não que tivesse medo de algo, somente por precaução. "Gosto de conversar, e não escondo nada, pois sou realista", pondera com extrema razão. O que poderá vir a ser mote para mais uma entrevista. Ou ao menos foi momento de respirar um pouco daquele inferno de trânsito, que bem sei que já nem me lembrava mais. É o que pode trazer de paz uma conversa amena, mais plena à sua maneira. Mesmo que tenha demorado mais de uma hora e meia para chegar na casa de minha namorada, quase nem dei por isso. Eis o que ocorre talvez quando não me fecho apenas de mim comigo. Quando dou oportunidade para a vida ser vida.

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