Pergunto-me, ó Mosteiro,
onde ainda prevalece o teu canto gregoriano, mesmo que pelo horário vespertino
já esteja findo? Que marcas posso sentir ao longo de tuas paredes, de tal modo
que me mostrem a tua clarividência? Em que parte do dom de tua cor diáfana
jamais arrefece teus desígnios? Procuro-te na imagem dos santos, e talvez haja
algo de latente em cada um deles. Procuro-te na dignidade das vestimentas por
demais solenes, e algo de inaudito pressinto. Procuro-te, ó canto de paz, nos
passos dos fiéis, que pelo fato de te ouvirem ou não, ainda assim pasmos
permanecem. Procuro-te no sorriso singelo de cada rosto que por um momento não
se consome em dúvidas. Procuro-te nunca em vão no silêncio pressuroso de quem
ora a procura de acalanto.
É bem verdade que te procuro
onde não para menos tudo de sacra luz se forja em vitrais. Onde não para menos
de pele em pele se faz bênção. Procuro-te em Jesus Cristo que no alto de sua
cruz compreende e perdoa todo o destino dos homens. Procuro-te na atmosfera de
piedade que se apodera de qualquer elemento feito de pedra, feito de anjos em
forma de luz, feito de regras onde tudo primam pelo amor. Bem sei que teu canto
penetra na alma de todo aquele que por aqui caminha. Pois por mais que por
ventura não haja canto, há canto. Por mais que não haja um sinal premente, de
algum modo se faz presente. Uma vez que o teu canto é voz subterrânea no
coração do homem, além de ser mais além que se faz alegria na Terra. Por teu
canto choro um choro digno, e na alma tudo se acalma de quietude e verdade. Por
teu canto ainda não ouvido descubro com fé o princípio de haver Mundo. Que
assim seja. A tal ponto que por certo reine a bem-aventurança neste imenso
lugar de aflições que é o planeta.
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