Sei
bem o quanto já escrevi sobre o dom da fotografia, cujo apelo sempre de algum
modo me comove, tal é a alegria ou drama que me transmite. Como então me calar
a respeito desta preciosa Exposição no Instituto Tomie Ohtake? Como negar o
pólen que me ronda a pele? Muitos são os retratos ou recortes que se empreendem
do Brasil. E nenhum me cativa tanto como este... Até mesmo as fotos para as
quais se posa, repousa alguma verdade inaudita. Pés descalços permanecem para
sempre pés descalços: por mais finda que seja a escravidão. O desmoronamento de
trilhos no começo do século XX atordoa tal como se fosse em mim que ocorresse.
De certo minhas lembranças de tudo vem de acordo com o suave acaso eletivo da
memória.
Eis
como também relembro daqueles olhos azuis de Olga Benário a cintilar na foto
luzentemente pungentes. Ao mesmo tempo, sei por certo que Carmem Miranda estará
sempre na ciranda da imaginação nacional. E a nossa Brasília, tão sibilina,
seduz por sua luminosidade noturna. Enquanto na foto de uma Igreja de Minas
desafoga o que há de ontem e agora da família brasileira. Sorte, portanto,
daquele que viu o que vi tal como somente à sua maneira poderia ver. Com uma
gana por ser por um momento sanado de si próprio. Peregrinar por lá me trouxe
as crinas líricas da consciência. Algo com que me arrisco a perfumar de delírio
a vida...
Obs: Fotografia de Jean Manzon.
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