Sim, eis a amabilidade em pessoa. Eis um homem que, pela
altura, faz grata sombra de árvore. Jovem e talvez predestinado à solidão,
chama sempre a atenção por onde passa. Devido ao tamanho, as pernas são tortas,
as mãos enormes, a artéria aorta a comportar tudo no limite de suas
capacidades. Possui a consciência de que nem todo o teto lhe dá teto, nem todo
sapato lhe conforma os pés sem deformá-los.
E tudo o que ele mais queria era um singelo amor, para
abraçar tal qual vento que vem dos montes. Cujo sorriso mútuo, a bem da
verdade, seria de sol a pino. Ao partilhar seu caminho com alguém, haveria, assim
acredita, por um momento a paz que tanto anseia. No entanto, sabe o
quanto assusta os outros, de modo que, mesmo com a fama de homem mais alto do
mundo, as pessoas somente querem proximidade para tirar uma foto, tal como se
estivessem diante das Cataratas do Iguaçu.
Outro temor é o da morte, uma vez que o seu crescimento
decorre de uma doença que lhe expande os órgãos do corpo, qual órgão de igreja
que, pela idade, corre o risco de perder a pureza dos registros. Apesar de ter
somente vinte e seis anos, no ritmo que o problema vai, tudo o torna muito
frágil. Deve se curvar à cada porta que entra, num gesto em que se manifesta
toda a sua humildade. E nada lhe incomoda o fato de ter pés esfolados quando a
estatura divaga ante as estrelas. Jamais deu sequer um beijo em moça enamorada,
pois nenhuma andarilha ainda desbravou a subida para tal secreta serra. E algo
que muito deseja também é quem sabe um dia correr com crianças ao largo de um
quintal. Além de ter o desejo de ser confidente das árvores do bosque. Com a
ternura premente de coordenar o assobio dos pássaros. Prestes a encontrar
talvez um comum acordo entre o chão e o céu. Quem sabe vivo o bastante para
orquestrar em longas braçadas as ondas do mar. Qualquer que seja o seu desfecho
será por toda vida um farol voltado, não apenas para o mar, mas sim quiça para
seu querido continente.
Obs: Foto vem da fonte do Google.
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