quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Sergio Larrain: fulgor monocolor





Serei breve enquanto a arte de Sergio Larrain sempre será duradoura. Breve por que nada possui um gesto tão lacônico e poderoso quanto a deste fotografo. Eis talvez seu paradoxo: quanto mais incisivo, mais reverbera em nós. Quanto mais incerta a possibilidade de foto, mais veemente se torna. Cria uma circunstância que logo se cristaliza, como se reconhecesse na pulsação das asas do pássaro a melhor hora para ser pólvora e bala. Em qualquer acaso apreende o apelo do destino. Fareja por certo as adejantes alegrias da alma. E não é apenas o ser humano o que ele de algum modo vislumbra: vai além, e assim descobre na fugacidade de nossas vidas o perene. As sombras permanecem ombro a ombro conosco, a fim de que haja em tudo assombro.

Silêncio há de ser silêncio. Palavra, se houve, se esvai no mistério do momento. Ainda que haja fulgor monocolor, algo de sono e sonho gravita. E mesmo quando tudo é vertigem, mesmo quando tudo é dor, sobra ainda ao longo do ar menos fuligem. Pois nenhum ardor ante estas ruas esquivas do Chile permanece sem respaldo de algum milagre. E, verdade seja dita, nada faz a vida mais comovida. Quem senão tal homem para ser o invisível que tudo de fato vê? Assim como olhar o já visto como jamais visto? Sergio Larrain é esponja que, logo depois que absorve algo, se petrifica. E não há tempo sem lugar, nem lugar sem tempo. Seu caminho antes mesmo de findo já é memória. Em cujas cinzas sempre haverão por fim novas faíscas.


Obs: Obra de Sergio Larrain.

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