Serei breve enquanto a arte
de Sergio Larrain sempre será duradoura. Breve por que nada possui um gesto tão
lacônico e poderoso quanto a deste fotografo. Eis talvez seu paradoxo: quanto mais
incisivo, mais reverbera em nós. Quanto mais incerta a possibilidade de foto,
mais veemente se torna. Cria uma circunstância que logo se cristaliza, como se
reconhecesse na pulsação das asas do pássaro a melhor hora para ser pólvora e
bala. Em qualquer acaso apreende o apelo do destino. Fareja por certo as adejantes
alegrias da alma. E não é apenas o ser humano o que ele de algum modo vislumbra: vai
além, e assim descobre na fugacidade de nossas vidas o perene. As sombras permanecem ombro a ombro conosco, a fim de que haja em tudo assombro.
Silêncio há de ser silêncio.
Palavra, se houve, se esvai no mistério do momento. Ainda que haja fulgor
monocolor, algo de sono e sonho gravita. E mesmo quando tudo é vertigem, mesmo
quando tudo é dor, sobra ainda ao longo do ar menos fuligem. Pois nenhum ardor
ante estas ruas esquivas do Chile permanece sem respaldo de algum milagre. E,
verdade seja dita, nada faz a vida mais comovida. Quem senão tal homem para ser
o invisível que tudo de fato vê? Assim como olhar o já visto como jamais visto?
Sergio Larrain é esponja que, logo depois que absorve algo, se petrifica. E não
há tempo sem lugar, nem lugar sem tempo. Seu caminho antes mesmo de findo já é
memória. Em cujas cinzas sempre haverão por fim novas faíscas.
Obs: Obra de Sergio Larrain.
Que texto belo Fábio.Parabéns
ResponderExcluirMuito obrigado, Sidney! Por ler com tanto carinho e zelo o meu texto! Grande abraço, Fábio.
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