segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Delacroix à beira do Inferno de Dante




Chamo por teu nome, Delacroix, enquanto as chamas de minha alma se alastram sem pausa. Invoco o drama de teus pincéis ao labutar diante do Inferno de Dante. Ali, tudo ali, naquela barca, abarca a vertigem de meu ser. Acaso sei se é Dante ou se sou eu ao lado de Virgílio? Acaso sou mais ou menos de seu delírio? Sei apenas que o que há de turvo nas águas sou eu. Sem dúvida, turvas e bruscas como sempre fui. Bruscas e na escuridão que me desofusca. Com efeito, meus caninos – de outro certo eu - querem a proa do barco, pois tal é o torpor marinho que tenho até mais fome de concretude que sede. Ou senão, sou aquele que possui mais sangue nos olhos que olhos sem latejar de sangue. Contorço-me também, logo adiante, qual torso quase avulso de mar e correnteza: pode haver na fealdade beleza? Pode haver serenidade no tumulto? Tudo, por sinal, é movimento sem paradeiro, tudo é unha que jamais empunha nada senão desolação, embora haja algo de Dante por inteiro. Embora haja na imperfeição algo de perfeito. E assim vai meu pouco ser ao longo do vento sem canto, ao longo do nada de meu pranto. Vai, pois, quer eu queira ou não, sempre de algum modo avanço. Sem nenhum lance do olhar em que não haja duradouro relance. Meio louco, meio em transe, vou.


Obs: Obra de Delacroix.

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