Ah! Fellini... Quanto de ti
vai ao longo de minha memória? Sei ao menos como discernir o que é sonho e o
que é realidade? Será que sei de algum modo quanto de teus personagens são de
ti ou são de Roma? Sei deveras a que ponto eterniza alguns de teus filmes em
preto e branco? Aprendi, bem sei, o que é deslumbramento contigo... E até quando houver presente, haverá teus
filmes. Do passado ou do futuro, nada quero apreender. Nasci com pálpebras para
ser cada vez mais de ti. Pois longo é o teu adeus que jamais cessa – e pleno de
ternura para com a singeleza humana. Cada vez que olha através da câmera é tal
qual olhar pela fechadura da infância. Sem nenhum risco de chave inoportuna que
obstrua a tua infinda criatividade.
Como um bom aroma de chá,
você vai além do corriqueiro, persuadi antes mesmo do primeiro gole, sem que se
saiba bem ao certo o quanto acalenta de nossos cílios... Não cria musas, são as tuas
musas que criam o mundo. E por mais que traduza em imagem tudo o que pulsa em tua
alma, jamais impede que certa parcela de mistério esteja prestes a irromper da
bruma de cada personagem. E faz do espectador alguém que peneira tal atmosfera
de sonho. É preciso por certo uma vida toda de ti, Fellini, para que a vida
seja mais da doçura de teu mundo. Sem a tua alegria, ainda haveria alegria? Sem
a tua verdade, o que seria da verdade? Sei apenas que minha cabeça possui corpo
e pernas por causa de teus filmes... Sei, sobretudo, que a morte um dia há de
vir, mas ao menos um pouco de tinta fica para dizer que te vi e ouvi...
Obs: Foto de La dolce vita.
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