terça-feira, 11 de setembro de 2012

Tchaikovsky sob medida




A música, sim, somente a música, para ser parte do mundo um pouco antes de ser parte infinda de mim. Somente a música se apodera de minha finitude para torná-la mais íntegra, mais humana, mais plena de tudo o que é vida. Foi, sem demora, através da presença soberba do violoncelista no palco que minha alma descobriu algo de único, pois, desde o primeiro momento em que fincou seu instrumento no chão, já era patente o ímpeto desse artista. Cada movimento era um sopro inteiro de vento ao longo da floresta. Olhar era mais do que olhar: era relampejar. Respirar era mais do que respirar: era toda uma chuva de verão. Coordenava o mundo com apenas um acorde, prestes a ser canto de galo na vastidão da bruma. Quem olhasse, diria que, em alguns momentos, o violoncelo, tal qual mulher, algo sussurrava rente ao pescoço do artista – ambos enamorados de firmamento. E os pés nada podiam contra o desejo de dançar, nada podiam contra o desejo de volúpia. Qualquer pausa do porvir era motivo para algum denso arco-íris, cuja ternura apura ainda mais os ouvidos. E a música, sim, a música, era toda minha, era toda revelação do inaudito, era aquele perfume de moça na memória. Ou então, uma alegria de louça a refulgir na luz da tarde. Que faz menos louca a minha loucura, que faz mais douta a minha doce ignorância... Para assim ser sempre, ó música, minha e de ninguém, para ser sempre do mundo e de mais além, para ser sempre uma hóstia cujo sentido está no Amém...


Obs: Foto de Tchaikovsky. 

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