Antes de qualquer rumo,
desaprumo-me de tudo o que já vi sobre Arte para me entregar à inocência
magistral desses artistas latino-americanos. São capazes de grande apuro
técnico de acordo com o que há de mais profundo em suas culturas. São
artesanais no extremo salutar da lucidez. Cada qual pleno de seus respectivos
povos. Ele é brasileiro do Nordeste sonhador e celeste. Ela é chilena que
abarca com seu coração o Chile inteiro. Enquanto ele grava na madeira ardente,
ela tece como que das profundezas do de repente. Tão distantes e tão próximos.
Firmes na vontade de uma densa limpidez no labor artístico, como se ambos
sempre recuperassem o frescor de elo entre o ser humano e os bichos, numa
alegria que as cores não escondem, pois a linha tecida persevera, a goiva
destemida escalavra – em mútua fome e fervor de mundo.
A cor de Violeta Parra
inebria - brisa do mar do Chile. Acalenta qual irrefreável melodia. Entusiasma
para jamais serenar a noite. Rouba do frio chileno um calor por mais
humanidade, por mais verdade entre as pessoas. Bem ao gosto de Samico, embora em
outras aragens e temperaturas que caracterizam tão bem a mitologia própria da
terra da seca e do Sol. Quando há água, a cor é voluptuosa. Quando uma ave vem
com seu porte altivo, a cor é repleta de candura. É na simplicidade que ambos
auferem magia ao mundo. Na doçura que se reafirma sempre entre a realidade e o
sonho. No poder de plasmar memória e imaginação com tanta convicção. Uma com o
fio, o outro com o vinco.
Com tal poesia e
originalidade que nem mesmo se sente falta da tradição européia, pois Parra e
Samico trazem uma ingenuidade que talvez apenas Henri Rousseau, aquele que não
seguiu nenhum ismo, possui de paralelo entre Continentes. Sem renovar tal como
eles o fizeram em densas técnicas, mas prenhe de vitalidade e ânimo.
Verdadeiramente capaz de criar o inusitado. À par de um sonho chamado pintura.
É dessa forma que se pode descobrir o quanto a arte universal comunga com as
raízes profundas do povo. Não é para menos que todos tinham uma maneira sempre
maravilhosa de ver a realidade, a ponto de transmudá-la em algo mais pungente.
Cientes de que para espelhar o humano, deve-se espelhar o outro. A outra e
mesma face que não é ninguém senão o povo simples.
Obs: Respectivamente, obras de Violeta Parra, Samico e Henri Rousseau.
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