terça-feira, 3 de julho de 2012

Violeta Parra e Samico - denso e doce enlevo




Antes de qualquer rumo, desaprumo-me de tudo o que já vi sobre Arte para me entregar à inocência magistral desses artistas latino-americanos. São capazes de grande apuro técnico de acordo com o que há de mais profundo em suas culturas. São artesanais no extremo salutar da lucidez. Cada qual pleno de seus respectivos povos. Ele é brasileiro do Nordeste sonhador e celeste. Ela é chilena que abarca com seu coração o Chile inteiro. Enquanto ele grava na madeira ardente, ela tece como que das profundezas do de repente. Tão distantes e tão próximos. Firmes na vontade de uma densa limpidez no labor artístico, como se ambos sempre recuperassem o frescor de elo entre o ser humano e os bichos, numa alegria que as cores não escondem, pois a linha tecida persevera, a goiva destemida escalavra – em mútua fome e fervor de mundo. 










A cor de Violeta Parra inebria - brisa do mar do Chile. Acalenta qual irrefreável melodia. Entusiasma para jamais serenar a noite. Rouba do frio chileno um calor por mais humanidade, por mais verdade entre as pessoas. Bem ao gosto de Samico, embora em outras aragens e temperaturas que caracterizam tão bem a mitologia própria da terra da seca e do Sol. Quando há água, a cor é voluptuosa. Quando uma ave vem com seu porte altivo, a cor é repleta de candura. É na simplicidade que ambos auferem magia ao mundo. Na doçura que se reafirma sempre entre a realidade e o sonho. No poder de plasmar memória e imaginação com tanta convicção. Uma com o fio, o outro com o vinco.








Com tal poesia e originalidade que nem mesmo se sente falta da tradição européia, pois Parra e Samico trazem uma ingenuidade que talvez apenas Henri Rousseau, aquele que não seguiu nenhum ismo, possui de paralelo entre Continentes. Sem renovar tal como eles o fizeram em densas técnicas, mas prenhe de vitalidade e ânimo. Verdadeiramente capaz de criar o inusitado. À par de um sonho chamado pintura. É dessa forma que se pode descobrir o quanto a arte universal comunga com as raízes profundas do povo. Não é para menos que todos tinham uma maneira sempre maravilhosa de ver a realidade, a ponto de transmudá-la em algo mais pungente. Cientes de que para espelhar o humano, deve-se espelhar o outro. A outra e mesma face que não é ninguém senão o povo simples.


Obs: Respectivamente, obras de Violeta Parra, Samico e Henri Rousseau.

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