domingo, 15 de julho de 2012

Entre Jesus e eu




Diante da alegria
De ter como convidado
Jesus,
Teria a possibilidade
De estender uma toalha de mesa
De linho,
Com todo o carinho,
De modo a tirar com os dedos
Qualquer desalinho de sua superfície.

Não importa qual material do prato,
Não importa qual tipo de copo,
Deus, logo mais presente,
Daria um belo assentimento:
A ponto de rever, em toda a sua pureza,
A luz do sol
Por entre a translucidez do vidro,
Sem nenhuma ressalva
Quanto à modéstia dos metais.

Repartiria o pão comigo
Com toda singeleza natural,
Grato pelo ar de respeito,
Pelo riso comedido,
Pelos ombros que se esbarram
Docemente,
Pelo cheiro de hortelã
Em algum lugar impreciso –
Ah, sim,
E também,
Sem dúvida,
Pela verdade do olhar
A dizer o porquê existe
Paz na Terra.

Depois que já não estivesse
Cá em minha mesa,
Eu recolheria os farelos
De teu pedaço de pão,
Beberia o que restasse de teu copo,
E jamais colocaria do avesso a toalha de mesa
Por onde tive tuas mãos,
Nem saberia ao certo com que fim
Tirar aquela mancha humana de vinho,
Muito menos haveria sentido em mudar
Algum dia tua cadeira de lugar.



Obs: Obra de Rembrandt.

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