Num estado de
arrebatamento, apoderou-se de mim o ímpeto de realizar um documentário poético.
Com poucos recursos que, no fundo, me permitiram talvez compreender melhor tal linguagem,
a ponto de reaver a aventura que há em mim. Capturei todas as curtas cenas em
meu próprio bairro, ciente do lirismo que encerram – lugar onde nasci e vivo. Decerto
cada tomada foi feita de modo amador, mas quem não é o amador senão aquele que
ama o que faz? Foram todas tomadas feitas ao acaso? E por acaso não há verdade
e descoberta no acaso?
Seria mesmo sério que, por mais que eu não quisesse, a minha mão tremulava? Sim; e tremulava junto, de prazer, o meu coração...
Assim apreendi talvez o relevante para me arriscar. E, com ajuda de meu amigo Thiago Prudêncio, pude fazer do risco um alento para os olhos contra qualquer cisco. Prudêncio deu-me uma ótima perspectiva das possibilidades latentes das imagens e das frases em áudio que gravei de alguns pensadores. Ajudou-me a pôr cada frase a respirar no seu devido lugar para que houvesse faísca naquilo que se vê. E o fato de meus pés chutarem um cascalho logo na primeira cena faz, à sua maneira, um convite para a caminhada. Cena que, em meditados fragmentos, será o fio condutor da narrativa. Surge ao longo do documentário tal fato a fim de se estabelecer um elo com as outras tomadas. E o curioso é que este caminho é visto muitas vezes de viés, de acordo com a plasticidade inerente dos muros, da pátina ou pintura que revelam. Além, é claro, da maneira como uma frase energiza o que talvez haja de duradouro ali presente. E mesmo que não seja tão imediato o elo entre imagem e som, vale a pena deixar-se levar pela cadência que evocam.
Mas, não de outro modo,
talvez seja possível perceber o relâmpago que precede a chuva, assim como a
chuva que preconiza outro relâmpago. Resta agora saber se serei tão feliz no
que digo quanto no que fiz...
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