quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Entre fé e fogo: os dilemas da natureza



Seja onde eu estiver, seja no cinema, seja numa exposição, fico sempre feliz quando encontro uma obra que me leva à reflexão ou que me emociona. Fico ainda mais feliz quando acontecem as duas coisas, como é o caso da exposição de fotos e esculturas de Frans Krajcberg. Que maravilha ver logo no início o fulgor esmeralda de uma folha que reverbera em minha memória, como se o artista soubesse qual a essência íntima de cada elemento da natureza, como se compreendesse a substância latente da seiva. Ou mesmo quando há apenas o tronco, sem mais nada que lhe percorra o âmago, a não ser o vigor da cor, a não ser a presença da veemência de cada textura, pois afinal o tronco se mostra por dentro e por fora, inclusive de modo a pôr em evidência os vazados, sem jamais perder a beleza.

Não é menos assombroso a integridade da natureza, mesmo sob os grilhões do fogo, que devora sem pudor, sem dar nenhuma pausa premente para a esperança. O que me surpreende, sobretudo, é a dignidade das ruínas de um tronco, enquanto tudo ao redor são cinzas. E mais belo ainda é, apesar de tudo, encontrar um broto, uma semente que desponta – uma semente e sua fé no mundo. Com efeito, Krajcberg descobre a resistência da natureza, uma vontade de perdurar que se apresenta na perseverança das fibras, na correnteza de sua matéria. Há, por fim, uma foto que é plena da coragem da natureza, já que a árvore corroída pelo fogo ainda persiste de pé, do mesmo modo, ou melhor, com o mesmo ímpeto, com o mesmo desejo por terra e céu que a “Coluna sem fim”, de Brancusi. Assim, fica a minha sugestão para ver o poder de tais obras, no aconchego do Museu Afro Brasil, no Ibirapuera.

Fábio Padilha Neves

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