domingo, 7 de agosto de 2011

Da vertigem ao fulgor: Van Gogh



Alguns pintores são dotados de grande sensualidade, outros de grande dramaticidade e outros ainda de uma dramaticidade que seduz o tempo todo, que possui inteira gana por tudo o que faz parte da natureza, por tudo o que possui desejo de Sol. Basta pensar em Van Gogh, o pintor do cosmos, o vidente das cores, o incinerador das descrenças, pois, tal como ele, poucos foram os que tinham na ponta do pincel o ardor do mundo, a extrema capacidade de tocar numa tela fremente por cores, a extrema sabedoria entre coração, olhos e mão. Quem, tanto quanto ele, soube ver a vida com tanto deslumbramento? Quem, tanto quanto ele, soube resistir à loucura com o fulgor dos pincéis, com o próprio Sol dos pulmões? Nenhuma sombra de uma árvore, nenhum vigor dos girassóis, vem sem uma fidedignidade do mundo com a alma, como se Van Gogh descobrisse os elementos da natureza à medida que a substância da cor se apodera da consciência dos olhos, como se o tumulto e a estridência do mundo se transmudassem por um momento em algo que só a luz, a cor e o silêncio ainda compreendem da vida.




Van Gogh, mestre da plenitude, maravilha os olhos tanto quanto o amor maravilha o coração. Tua noite, tuas estrelas, tuas lúgubres janelas apreendem o inefável, comungam, sem dúvida, um sentimento de liberdade, um doce desejo sem pudor, sem culpa, sem sequer um momento sem clarividência, pois Van Gogh desperta em cada um de nós um fascínio que, de alguma maneira, já estava latente, como se a rosa precisasse de apenas um leve sopro de brisa para desabrochar de vez... Com efeito, teu olhar nos auto-retratos é como uma chama de vela que pouco se movimenta, mas que muito flameja. Tuas paisagens são um longo sussurro dos anjos sempre prestes a sorrirem, de acordo com a mudança de direção das asas. Tua vida de muita luta teve um desfecho triste, mas, ainda assim, tua fornalha aquece para todo sempre as nossas vidas, tua verdade sempre será um testemunho da humanidade.

Dedico este texto à minha bela Janaina.

Fábio Padilha Neves


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