domingo, 7 de julho de 2013

Rubiana




Teu nome não surgiu à toa - nem jamais transborda do coração de seu pai em vão. Teu nome, Rubiana, com certeza veio com a mesma gana que o teu pai lhe queria viva. Por causa de sua meningite (junto com a paralisia cerebral), a médica acreditou que você tinha apenas sete dias de vida. Mas não. Teu pai tinha razão. Passou trezentos e sessenta e cinco dias, e ganhaste um pouco mais de corpo. Corpo sempre miúdo, e nele um mundo. Teu pai jamais desistiu de ti. Muito menos a sua mãe. Mãe que dá por toda a vida a quentura do próprio amor nos dias que tu não consegues dormir. Encontro a família numa manifestação diante do MASP que reivindica transporte para os filhos que necessitam de auxílio na AACD. Luís, certa vez, (conta isto com um singelo nariz de palhaço - além dos olhos sérios) teve que descer uma íngreme escadaria no Terminal Praça Bandeira, e só quando faltava dois degraus alguém pretendeu lhe ajudar. Mora em Campo Limpo, e já faz muitos anos que demanda do governo algum meio de locomoção que lhe possibilite levar a filha ao tratamento, uma vez que através de ônibus é quase impossível.


"Eu poderia ficar um dia inteiro a falar de minha filha", comovido confessa, de tal modo que, mesmo com óculos, um furtivo lampejo escapa de seus olhos escuros. E de modo afável narra um pouco de tudo. "Vocês querem conhecer a minha filha", pergunta a mim e ao meu amigo ainda não tão próximos de onde ela estava. "Claro", respondemos de imediato. Foi aí que te conheci, Rubiana, tão pequena e plena de carisma, tão silenciosa e humana, e de olhar atento. "Esta menina é o meu orgulho. E a minha alegria", conta o pai, enquanto ponho as mãos no ombro dele - neste ombro que já sofreu tanto, e no entanto se mantêm firme, incólume. Neste ombro que resiste apesar dos tombos. A sua filha é o céu depois de cada tombo. A sua filha é não saber o que é duro chão apesar de cada tombo. A sua filha é, num assomo, o que você, Luís, sempre quis - ser de algum modo feliz. E ainda assevera: "A minha mulher é uma guerreira". Pois se não me engano Luís e Susana tiveram mais três filhos - numa luta pela vida que não cessa. E a Rubiana talvez seja o maior talismã deles. E também aquele imã que agrega toda a família numa união indissolúvel. Rubiana é amor no estado mais puro. "Ainda quero que ela conheça a minha terra natal. Para ela sentir a areia. Ela percebe tudo ao seu redor", Luís afirma. E eu acredito. Pelo fato de que Rubiana é o Sol que doura a pele de todos.

Obs: hoje Rubiana possui 27 anos.

2 comentários:

  1. Fábio, me chamou Monique. Sou uma das irmãs de Rubiana e estou aqui com os meus pais e meu irmão lendo o sesu relato sobre a nossa menina. Agradeço de todo o coração por todas as palavras, e pelo carinho que demonstras. Por uma falta de atenção e um pouco de recursos - não sei - perdi o direito de brincar com a minha irmã mais velha (tenho 26 anos e ela 27), não sei qual o tom da sua voz, se seria tão seria e divertida quanto eu, ou se seria timida, mas não me tiraram o direito de ama-la INCONDICIONALMENTE. Somos uma familia muito feliz e muito unida apesar das surpresas da vida e vivemos em torno da Bibi. Não im igino minha vida um segundo sequer sem a presença dela. Espero que possamos manter contato. Quando meus pais chegaram você e seu amigo foram o primeiro comentário, quando perguntamos quando havia sido o "passeio" do bem, o passeio dos NOSSOS direitos. Um grande beijo e muito obrigada, muito obrigada mesmo. Monique.

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  2. Olá, Monique. Muito obrigado pelo contato. E fico muito grato por suas palavras. Percebo em tudo o que dizes o profundo amor que a família toda tem pela Bibi. Por favor, liguem para mim no telefone de casa (o celular está fora de área) que acho está em meu cartão, pois gostaria, se possível, muito de visitar vocês. Meu e-mail é fabiopadilha28@hotmail.com Um grande abraço, Fábio.

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