sábado, 20 de julho de 2013

Nem uma nota de rodapé sobre a Panda




Rodou pelo mundo a morte de Casablancas. E nem uma nota de rodapé sobre a Panda. Quem conhece um pouco de moda sabe o quanto aquele nome representa. Quanto à Panda, quem soube senão a Maria, a Jana, os irmãos, assim como eu, e o uivo dos outros cães do mesmo quintal? Do mesmo modo, pelo que consta, a família dele estava por perto. E como não poderia ser diferente morreu na cama. De câncer. Por sinal, a mesma doença que a Panda. Nenhum noticiário dos que pesquisei disseram em que região foi o seu tumor. O dela foi na mama. A tal ponto que arrasou costelas, e devassou outros órgãos. A cama da Panda era um esmero de lençol contra o frio do chão. Já não queria cobertor, tal era a dor. Casablancas era de família abastada. Panda, se não me engano, era vira-lata. Ele provavelmente conheceu boa parte do planeta. Ela sempre teve duradouro amor, e jamais como outros vira-latas, se viu na sarjeta. Ele revelou grandes modelos. Ela ao menos conheceu, de Maria e Jana, olhos belos. Ele fez memórias, do universo da moda, com muitos podres. Ela, numa família humilde, soube na vida o que há de mais nobre.

Quais foram os derradeiros afagos em Casablancas? Acredito que da esposa e dos filhos. Para Panda, o último cafuné foi de Jana, na mesa de uma clínica veterinária. Não faltam fotos de Casablancas: e procurei olhar bem nos olhos dele para ver a cor - meio mel, suponho. Para quem viu o seu lampejo final talvez fossem todo mel - não posso negar. Nem muito menos nego que para a minha namorada o olhar de Panda também era mel. Justamente quando ela a levava para a clínica ante o azul do céu. E mesmo depois do estertor que, por fim, deu cabo do coração, eis que ainda assim mostrava na íris canina laivos de sua permanência terrena.

Casablancas será por muito tempo lembrado. Panda sempre terá de algum modo naquele quintal o seu canto. Casablancas tinha, como profissional, um grande olhar e tino. Panda teve no amor a sua forma de ser destino. Casablancas foi motivo de pauta nos jornais. Panda será sempre motivo para nossos singelos ais. Num quintal jamais qualquer da vida. Casablancas tem todo o direito à fama. Panda teve uma afável casa. Para que mais? Casablancas tinha deverás o que contar em seu livro. Panda nos legou os seus olhos e um não mero abanar de rabo. O que já nos basta para ser ao longo do porvir quiça furtivo sorriso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário