Rodou pelo mundo a morte de
Casablancas. E nem uma nota de rodapé sobre a Panda. Quem conhece um pouco de
moda sabe o quanto aquele nome representa. Quanto à Panda, quem soube senão a
Maria, a Jana, os irmãos, assim como eu, e o uivo dos outros cães do mesmo
quintal? Do mesmo modo, pelo que consta, a família dele estava por perto. E como
não poderia ser diferente morreu na cama. De câncer. Por sinal, a mesma doença
que a Panda. Nenhum noticiário dos que pesquisei disseram em que região foi o
seu tumor. O dela foi na mama. A tal ponto que arrasou costelas, e devassou
outros órgãos. A cama da Panda era um esmero de lençol contra o frio do chão.
Já não queria cobertor, tal era a dor. Casablancas era de família abastada.
Panda, se não me engano, era vira-lata. Ele provavelmente conheceu boa parte do
planeta. Ela sempre teve duradouro amor, e jamais como outros vira-latas, se
viu na sarjeta. Ele revelou grandes modelos. Ela ao menos conheceu, de Maria e
Jana, olhos belos. Ele fez memórias, do universo da moda, com muitos podres.
Ela, numa família humilde, soube na vida o que há de mais nobre.
Quais foram os derradeiros
afagos em Casablancas? Acredito que da esposa e dos filhos. Para Panda, o
último cafuné foi de Jana, na mesa de uma clínica veterinária. Não faltam fotos
de Casablancas: e procurei olhar bem nos olhos dele para ver a cor - meio mel,
suponho. Para quem viu o seu lampejo final talvez fossem todo mel - não posso
negar. Nem muito menos nego que para a minha namorada o olhar de Panda também
era mel. Justamente quando ela a levava para a clínica ante o azul do céu. E mesmo depois
do estertor que, por fim, deu cabo do coração, eis que ainda assim mostrava na
íris canina laivos de sua permanência terrena.
Casablancas será por muito
tempo lembrado. Panda sempre terá de algum modo naquele quintal o seu canto.
Casablancas tinha, como profissional, um grande olhar e tino. Panda teve no
amor a sua forma de ser destino. Casablancas foi motivo de pauta nos jornais.
Panda será sempre motivo para nossos singelos ais. Num quintal jamais qualquer
da vida. Casablancas tem todo o direito à fama. Panda teve uma afável casa.
Para que mais? Casablancas tinha deverás o que contar em seu livro. Panda nos
legou os seus olhos e um não mero abanar de rabo. O que já nos basta para ser
ao longo do porvir quiça furtivo sorriso.
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