

E talvez seja para qualquer pessoa um baque estar acostumado com a volúpia delicada de um Modigliani, por exemplo, onde, sem dúvida, tudo é carícia; e de repente ver o denso modo de Lucian vitimar suas modelos com a inelutável cor do tédio. Nenhum olhar em Freud significa contentamento, nem felicidade, muito menos comunhão a dois. Os olhos podem ir na direção tortuosa do vazio, podem nunca tocar outro mortiço olhar, podem ter pálpebras com o peso do chumbo, só não podem fugir da própria solidão. Qualquer movimento da modelo é uma prefiguração do limbo. Cada pincelada, um pequeno drama; cada cor, uma confissão. As mesmas manchas que encontramos na velhice vamos encontrar, para nossa surpresa, em um bebê. E o único olhar que mostra uma lucidez titânica é o de sua mãe já idosa. Lucian faz do corpo vestido algo um tanto canhestro e do corpo nu, um manifesto contra a hipocrisia, um manifesto contra o mundo das aparências; seus auto-retratos são de um despudor feroz, tão intensos quanto um Rembrandt, tão impiedosos quanto o mar. E que lugar mais intragável e triste seria melhor, para seus modelos, senão aqueles que ele já encontra? Será que são possíveis ângulos mais desoladores? São por todas essas questões que Lucian Freud continuará a ser os olhos implacáveis de um corvo, prestes a perceber sempre a vulnerabilidade do ser humano... Que assim seja.


Que estilo magnífico.Grande texto escolha
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