terça-feira, 20 de julho de 2010

Naquela Rua São Guálter...

Todo o trabalho plástico é a possibilidade de se aprofundar no mistério maravilhoso que é a vida, como se cada ato de enxergar sempre estivesse pleno de descoberta. É, sem dúvida, assim que a obra de Renato Pera me preenche; através da verdade incondicional que a arquitetura de uma simples casa desperta em nós. Aparentemente, não há nada de mais nesta casa da década de 50, que recebe o título de Somnus (Noite São Guálter), uma noite que parece chegar lentamente, naquela cor de sonho quase premonitório que é o magenta ali usado.
Tal recurso digital confere a cada ângulo da casa escolhido uma renovada percepção desta, ora através de uma foto que abrange a totalidade da casa, ora através de recortes incisivos e inesperados, como a imagem parcial do portão e do telhado, onde percebemos uma breve, mas intensa gama de tons. Outro fato importante é a riqueza e variedade de contornos, o modo como a linha pode ser totalmente retilínea ou, ao mesmo tempo, totalmente ondulante, criando assim um dinamismo muito refinado. E não pára por aí a pesquisa de Renato, porque a todo o momento ele procura o inusitado, seja naquele estreito corredor, que à medida que acompanhamos seu ponto de fuga, os tons, por fim, transmudam-se de acordo com a incidência da luz; seja quando estamos dentro da casa e cada ponto daquele espaço vazio produz uma sensação de estranheza, de incomunicabilidade, já que não há nenhum vestígio humano que normalmente lhe caracteriza. Tudo através de sua firme sensibilidade, para ver até que ponto a tecnologia é necessária ou não; como a sua delicada percepção de colocar numa parte da escada interna aquele filtro um pouco mais escuro. São sutis sacadas que fazem total diferença para a concepção final do trabalho. Decerto, é preciso muito olho e imaginação para alcançar tais resultados e um desejo de não apenas visitar um local, mas também se aventurar dentro dele; e como o próprio artista diz há na progressão de imagens vistas, um instigante suspense que, a meu ver, subverte a idéia comum que fazemos do suspense como algo que indiscutivelmente leva a algum desfecho. Sua arte mostra que o mais banal de qualquer lugar está prenhe de novidades, que basta um pouco mais de curiosidade para se fazer sentir...


Site de Renato Pera com seus trabalhos: http://renatopera.tumblr.com/#/499948181

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