segunda-feira, 19 de julho de 2010

Do vidro à gravura




Nem sempre temos a oportunidade de acompanhar todo o desenvolvimento de uma obra de arte. E quando tal fato é possível, ficamos deslumbrados com o ganho que o trabalho teve, com a capacidade do artista de explorar o que já era belo e que agora fascina ainda mais. Falo, portanto, do trabalho de Gilda Morassutti e de sua aguda percepção de como um vidro riscado, desses que encontramos em ônibus, traz particularidades que, a princípio, passa, vez por outra, despercebido.
Se antes já era nítida uma harmonia na forma como os riscos se cruzam ou a própria intensidade com que os feixes juntos atravessam a obra, agora ainda vamos ter a abundância da cor, a escolha precisa de cinzas e negros para enfatizar aquela incisividade vigorosa dos riscos ou, até mesmo, quando o que domina nossos olhos é a presença ousada do branco. Assim, a mudança que temos é comparável a de inventar uma melodia que apenas assobiávamos, e que agora temos a necessidade de escutá-la através da densidade de uma orquestra. Cada cor entra no momento certo, cada respingo gráfico reforça a beleza feérica dos riscos, cada vibração da cor encontra seu contraponto.
Não é mais o vigor da luz, na espessura gravada, o que vemos, não é mais a doçura da uva o que queremos e sim algo parecido com o trabalho artesanal dos pés que transformam a uva em vinho; queremos, então, a exuberância que só os artistas são capazes de criar. Que assim seja...

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