terça-feira, 27 de julho de 2010

Árduo Silêncio




Toda a performance é de alguma forma uma busca pela compreensão dos próprios limites ou, até mesmo, a possibilidade de dissipar qualquer limite entre nós e as coisas. Felipe Bittencourt, em sua performance, tem um apelo que é difícil de definir à princípio; talvez porque a simplicidade de sua atitude esconda o árduo esforço mental necessário para realizá-lo.
Decerto, Bittencourt procura, dentro de uma grade, ser tão estático quanto o urso a seu lado e de olhos não menos imóveis que aquele objeto de pelúcia. E é justamente aí que vamos perceber um tácito drama em sua atitude, pois, sem dúvida, as coisas inanimadas, por mais expressivas que sejam, não possuem dificuldade de manter o próprio gesto, já que a inquietude é peculiar aos seres vivos. De fato, só nós somos agitados por natureza e na mínima pausa de algo que fazemos, há aquele anseio de usufruir de nossas energias.
É muito por isto que não podemos olhar para Bittencourt sem certa apreensão, uma vez que é visível a concentração dele de prescindir, num longo espaço de tempo, de algo tão precioso para nós: a mobilidade. Mas, Bittencourt vai mais além e mostra para nós que se tantas vezes a natureza pode se tornar uma metáfora para nossos estados de espíritos, ele, Bittencourt, acaba se tornando a metáfora do inanimado.

Obs: Fotos de Marcia Gadioli

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