quinta-feira, 16 de agosto de 2012

O que Guernica me suscita





Teu nome, Guernica,
Apenas teu nome,
E, por trás dele, o grande homem
Para enfatizar o drama da vida.

Somente, Picasso, numa densa investida,
Forjou uma imagem poderosa que jamais se finda.

Decerto já não há mais as explosões antevistas,
Já não há mais o choro da mãe e a impassibilidade taurina,
Já não há mais a imagem desolada de um homem em má sina,
Com as linhas da mão desprovidas de cartomante que lhe desse guarida.

Alguém, desacolá, cambaleia devido às bombas e, sem destino, desatina.
E até mesmo o garbo do cavalo perde o rijo eixo e seu rinchado azucrina.

Mal sei também o que dizer sobre aquela luz de vela que tanto me intriga:
Teria realmente algum valor ante a desgraça ali sobrevinda?
Seria possível a descoberta de alguma alegria que não desafina?

Qualquer que seja o temperamento da ferida luz entrevista,
Jamais se permanece diante de tal obra sem vívida impressão,
Pois, enquanto alternam as temperaturas dos brancos e dos cinzas,
Apodera-se de nós o quanto ainda falta para o mundo ser são.

Eis a razão ou desrazão para que Picasso empunhasse nas mãos
Os pincéis que nada curam, mas que de algum modo desalucinam.

Picasso traz sempre a verdade sob estreito laço,
Em busca do peregrino mundo e seu descompasso...


Obs: Obra de Picasso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário