domingo, 12 de agosto de 2012

Marc Chagall: entre a poesia e o sonho





Nada na vida se assoma no coração com tanto arrebatamento quanto as obras de Marc Chagall. Dizem que o Cubismo lhe influenciou muito e de fato ninguém o nega, no entanto as ruas de sua terra natal já eram cubistas, pois havia sempre algo de incongruente e esquivo nas casas e ruas de seu vilarejo. Nos primeiros trabalhos, o néctar e o mel jamais haviam ainda feito algum pacto, sem saber ao certo o quanto de favo e o quanto de atmosfera ao redor da colmeia prevalecia.  Pois havia sim algo das ruas, havia sim algo do recolhimento das casas, mas quando ocorreria o eclipse de ambas? Acredito que essa magistral abelha sabia que tinha duas residências. E já na maturidade, de uma a outra, trazia as confidências da poesia.

Confidências que o exílio reverberou pleno de ardor. Chagall, a meu ver, ansiava na distância do exílio aquele doce delírio da memória, como se todo vento viesse de Vitebsk, como se a carruagem do luar trouxesse sempre mantimentos do passado. Poucos exploram com tanta fantasia o espaço quanto Chagall, de tal maneira que se Escher faz um espaço para se perder, Chagall faz um espaço para se achar e se perder no achado. Escher prefere o labirinto sucinto; Chagall desconhece qualquer labirinto finito que não seja lindo. De um, a vertigem. Do outro, o repouso.

Quem amou o amor amará mais com Chagall. Quem senão ele para mostrar o amor no deleite de viver? Um amor sem atribulações prementes: um amor onde a quietude se encontra com a virtude.

Chagall é puro e depura as formas, a ponto de trazer a quintessência da vida - não sem vigoroso equilíbrio dos elementos. Qual flor que desabrocha sem perder a unidade de tocha. Chagall é mais noturno do que diurno: suas assinaturas vêm muitas vezes com o oportuno grifo da Lua. Chagall é a vantagem de haver miragem em qualquer parte. Chagall é, aliás, um momento entre a paz e eu. Chagall é, em suma, o que há de repentino na fruta. Eis o que Chagall faz por mim...


Obs: Obra de Marc Chagall.

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