quinta-feira, 26 de abril de 2012

Caminhantes




Você,
Caminhante de Giacometti,
Persevera tanto,

Vai sempre
À frente de mim:
Frágil e Resoluto,
Curvo e Faminto
De algo.

Sem pulsação
Premeditada,
Sem desbravar
Ao certo
A própria saliva.

Vai à frente,
Carcomido
Pela luz.

Por toda vida,
Através de passos
Que jamais se desvencilham
Do pântano asfalto.

Vou assim,
Com algum ritmo,
Tão perdido
Quanto você.

Puro
Apesar de
Impuro.

Pouco a pouco,
Cada vez mais louco.

Ao menos,
A ponto de me reencontrar
Em teu olhar.

Ao menos,
A ponto de chorar
Teu choro secreto
De bronze.

Ao menos,
A ponto de ruminar
O inruminável
Em ti.

Louco, sim,
E cada vez
Mais louco.

Sem outrora
Nem amanhã:
Louco.

Sem prós
Ou contras:
Louco.

No entanto,
Prestes a conduzir
Tua trêmula mão,
Como se fôssemos
Irmãos.

Como se já
Não houvesse mais
Os desvãos da alma.

Como se nada
Mais fosse em vão.

Assim, meu irmão,
Se sou louco
Ou não,
Já não sei.

Basta-me
Tua singela mão
Para já não
Mais sofrer.

Basta-me
Teu pulmão
De irmão
E a gratidão
Que sempre
Me traz.


Obs: Obra de Giacometti.

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