quinta-feira, 17 de março de 2011

Meu dia, minha noite...



Escrever é um perfume que se espalha com os punhos.


Melancolia é um quarto grande e escuro onde se procura uma janela mais por meio da umidade do que por meio da luz.


A música é o ardil feminino de tomar um sorvete de casquinha sem derramar.


Melancolia é o triste ofício do astrônomo, que possui o único dever de contar, uma a uma, as estrelas que se extinguem.


A música é o ourives dos ouvidos.


Melancolia é os dentes sensíveis demais para qualquer prazer gelado.


A vírgula é aqui e ali tão misteriosa quanto a inevitável pausa e enlevo de uma melodia.


Melancolia é uma fobia ao ar livre.


A música é noturna até que seja mais um dia de orvalho e diurna até que o Sol se apague nas cinzas da colina.


Melancolia é o Eclipse quando o Sol se põe.


A flor é a meditação da natureza.


Melancolia é o vento frio que se reconhece a direção, e que impede de saber de onde vem a brisa.


O primeiro acorde de uma orquestra é como uma folha de outono ainda não de todo seca e, no entanto, ainda assim, já possui toda a originalidade de suas cores.


Melancolia é não mais o que os olhos vêem, mas aquilo que o cisco dos olhos ainda permitem ver...


Beleza é o delicado origami das pétalas; cada dobra é obra de seu perfume.


Melancolia é uma abelha sem mel e sem colméia.


As ondas do mar chegam lentas aos pés como o rumor da voz de João Gilberto.


Melancolia é a luz no início do túnel e só...


Jascha Heifetz olha para seu violino com a mesma intensidade e calma que Rodin olha para suas esculturas já acabadas.


O Inferno é o abismo do universo: sem uma estrela que lhe oriente.


A beleza é a resistência humana ante as manobras da morte.


Tédio é o desejo de distâncias, enquanto a areia movediça enrijece o corpo...


A beleza é o último refúgio do solitário. Ainda que não se lembre dos outros.


Tédio é o peso da alma sobre os ossos do corpo.


A alma é a fortuna do corpo. O corpo é a economia da alma.


O mau humor é um palhaço decadente cuja maquiagem desmancha por causa do suor.



Fábio Padilha Neves





Obs: Arte de James Mcneill Whistler.

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