quinta-feira, 17 de maio de 2012

Modigliani: ardor carnal da cor



Melhor ainda não,
Ainda não diga nada
Doce linha de Modigliani,
Não diga nada ainda sobre a tua verdade,
Não queira logo de cara
Revelar teu segredo.

Talvez
Nem poderia –
Tal é a misteriosa
Alegria
Que encerra –
Melodia única
Que, não por acaso,
Me comunica
O que jamais
Foi por acaso:
Milagre da alma
Que perdura no quadro
Ao longo da pele –;
Por toda vida,
Comungante de ternura.

Numa cor carnal
Que a penumbra
Do amor
Inventa ao toque
Do pincel,
Durante profundo
Estremecimento.


Com efeito,
Vejo este pintor
De tal modo
Enredado
Pelo ardor,
Que na possibilidade
De uma sensual curva,
Nada há nem haverá
De vida turva.

Na possibilidade
Voraz
Da carne,
Bem sei que
Modigliani
Silencia
Qualquer alarde.


Por sinal,
Anseia o perfume da cor.


Assim como,
Aspira um cântico
Ao rubor da musa.


Até que, 
De repente,
Empreende no olhar
Que pinta
Águas difusas
Cuja correnteza
Jamais será sucinta.

Sem saber 
Bem ao certo
O quanto da pintura
É palpável,
Nem o quanto
É impalpável -
Sonho
Que se apodera
Da brisa
Com as unhas:
Derradeira promessa
De pálpebras e brasa.


Obs: Obra de Modigliani.



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