quinta-feira, 31 de maio de 2012

André Kertész: o arroubo das formas





Mal sei
Como adentrar
No mundo
De André Kertész
Sem me comover
A cada passo,
Como se fosse
Possível,
Numa mesma alma,
Ardor e cálculo –
Sempre de um modo
Tão belo e genuíno.

Pois se há
Cálculo
É sem dúvida
Através do longo
Ardor dos olhos –
Justamente
Quando faro e saliva
Apreendem o essencial,
Uma vez que a saliva
Jamais transborda,
À medida que
A consciência
Cada vez mais
Depura o inaudito.

Percebo também
Que o olhar de Kertész
Não é apenas
O de uma pantera noturna:
Vai além
E busca no lampejo
Diurno
A afirmação da vida.

Descobre na beleza
Do assobio
O momento em que
Desvanece o esboço
Para ser algo
Mais duradouro.

Sabe, como ninguém,
Quando a onda
Vem plena
De espuma e brisa
Ao longo da praia
Da alma.

De tal modo que
Nem sequer
Nos lembramos
Do pó que somos.

Afinal, tudo é pólen
Em seu trabalho.

E quanto
Mais misteriosa
A flor,
Mais me arrebata
De alegria,
Mais me arrebata
Com seu doce
Sonho.

Haja visto que
Uma imagem
De André Kertész
Possui, na verdade,
O frescor de um milagre,

Qual chuva
Que vemos
De uma marquise,

Qual perfume
De jasmim
Cuja gola de camisa
Nega que haja fim.

E se há
Alguma possibilidade
De verdade no mundo,
Tal verdade
Jamais fica longe
Do olhar de Kertész.










Obs: Obras de André Kertész.

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