terça-feira, 6 de março de 2012
Grafia da alma por qual me devoto...
Perdoem-me voltar
A tal assunto
Sempre e sempre...
Mas abunda em mim
Uma onda que
Jamais desregressa:
Com tal frescor vem
Que mal posso
Resistir de fato.
Gestante do belo,
Confesso que jamais
Deixo de lado
Uma alegria
Que se comove
Com o mundo.
Não é menos
Verdade que
A Exposição da Pirelli,
No MASP,
Arrebatou-me com ímpeto...
Não apenas por que
São duradouras fotos
Ao longo do aconchegante
Espaço,
Mas também por que
As fotos são o dom
Da imagem ao longo
Do espaço da memória de meu ser.
Não demora assim
Para que a criança
Que sobe a curva
De uma escada
Seja eterna gratidão.
Não demora assim
Para que o jogo de planos
Entre uma mesa
E uma janela
Seja plena confidência.
Não de outro modo,
O menino de castigo
No canto da parede
Sou eu.
Não de outro modo,
Aquele lábio carnudo
Que vi
Ainda sou eu.
Brasília, tão longínqua
E deslumbrante,
Há de ser mais uma vez
Eu.
Qualquer pausa
Em busca de sossego
Sou eu
Sim.
Quanto de mim
Sou sem a festa
Do outro que sou eu?
Quanto de mim
Sou sem a luta
Do outro que sou eu?
Quanto mais
Procuro alguma descoberta,
Mais a cubro
De afeto e amor...
Algo nos olhos
Que vislumbrei e vislumbrei
Não se apreende de imediato:
O que é gás, o que é cosmos?
Como ver sequer
Um traço
Do mundo que
Geraldo de Barros
Esbarra
Sem momento de sonho?
Que acordo
Posso ter com
O denso desacordo
Que é existir?
Pergunto-me
Sem saber
Com que fim
Algo saber...
Acaso o sono
Entrevisto
Do Yanomami
É menos sono
Sem o que há do fotografo,
Sem o que há de mim?
Melhor seria perguntar:
Acaso o jasmim
Fica sem olfato,
Acaso o olfato
Fica sem jasmim?
Acredito que não...
Fábio Padilha Neves
Obs: Fotos de Alécio Andrade e Mário Cravo Neto, respectivamente.
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