sábado, 31 de março de 2012
O que se basta
É sempre maravilhoso
Pensar ao longo do dia
Em ti...
Basta que haja a passagem
De uma borboleta
Perto de mim,
Para que seja em mim
Que ela passa e me transpassa.
Basta um pouco de luz
Em minha pele
Para que eu seja
Muito mas muito de ti.
Basta vento
Pra que haja momento
De enlevo.
Bastam flores
Para que em cada
Veludo das pétalas
Haja sim teu doce nome.
Basta alegria
Para que não haja tristeza.
Basta o que há de paz
Na tua voz
Que logo mais ouvirei.
Obs: Obra de Picasso.
Dedico à minha Janaina.
quarta-feira, 28 de março de 2012
Caso não haja orvalho
Caso não haja orvalho,
Que venham as lágrimas...
Caso já não haja luz,
Que me seja possível
A memória...
Caso não haja mais perfume,
Que jamais me falte
O bom humor...
Caso já não haja brisa,
Que resista ainda em mim
A ternura...
Caso não haja mais pólen,
Que prevaleça tudo
O que fica
Por que
Veio para ficar...
Caso não haja nuvens,
Que permaneça
O direito de devaneio...
Caso não haja mais tua pele,
Qual é o sentido
Do ardor do mundo?
Caso não haja teu beijo,
Acaso sei o que é olfato
Ou tato?
Caso já não haja teu olhar,
Será que alguma vez
Soube o que é amanhecer?
Obs: Detalhe pungente dos olhos
De uma figura de Roger Van der Weyden.
Dedico à minha Janaina.
terça-feira, 27 de março de 2012
Chilrear de Chirico
No chão
Sem perdão
Repousa
O que resta
De um busto:
Vertigem
Louca do imóvel.
Chão
Que nem sempre
Segue a ordem
Ordinária
Da vida.
Tal é o absurdo
Um tanto quanto
Surdo
De suas visões.
Uma vez que,
Um dentro
Não tão dentro
Ou
Um fora
Mais que fora
Prevalece
Pleno de vazio.
Vazio puro
E impuro,
Não sem
Inquietação,
Não sem
Estremecimento,
Não sem
Ação
Desprovida de ação.
Perturbadora
Ou não,
Cada imagem
Perdura,
Como se houvesse,
Por toda vida,
Um segredo
No degredo da alma.
Como se houvesse
Ao longo
Do descomum
Algo
Em comum
Que nos habita.
Quem se habilita
A ter uma janela
Sem que haja
Certeza nela?
Quanto
De delírio
Há na exatidão
Da sombra?
Seria a cultura
Um peso
Com grande pesar
Ou
Um enlevo
Com gratidão?
Ver
Seus trabalhos
É um acontecimento
Que nos escapa
E que nos trespassa.
Reunião
Entre a verdade
E aquilo que
Um dia
Foi a mentira.
Pois,
Sem dúvida,
Não pertencer a algo
É sempre
Algum modo
De pertencer.
Pois,
Sem dúvida,
Não acreditar em algo
É sempre
Algum modo
De crença.
Pois, então,
Qual a ilusão
Que não tenha
Voragem
Por realidade?
Obs: Obras de Giorgio de Chirico.
segunda-feira, 26 de março de 2012
Longo sem ser breve: amor
Longa é a noite
Sem ser breve
Teu beijo.
Longo é o luar
Sem ser breve
Tua nuca.
Longo é o perfume
De jasmim
Sem ser breve
Teus sussurros.
Longo é o rumor
Do rio
Sem ser breve
O que há de enlevo
Em teu sorriso.
Longo é o silêncio
Noturno
Sem ser breve
O teu meu coração
Que pulsa e como pulsa.
Mas breve é o mar,
Se não for longo
O amor.
Quanto há então
De oceano em nosso amor?
Na verdade, mal sei por onde começar,
Já que começo e fim não há.
Obs: Obra de Chagall.
Dedico à minha Janaina.
domingo, 25 de março de 2012
Na vastidão do amor
Na vastidão
De nosso sentimento,
Sou teu perfume e o vento.
Na vastidão
Do desejo entre mim e ti,
Sempre reconheço na minha
A tua boca –
Beijo que se beija sem falta de boca
Que se abocanha.
Na vastidão
Mútua das peles,
Murmura, ao longo do ardor,
O luar –
Sem lugar e tempo
Que não fosse eterno tempo e lugar.
Na vastidão do amor,
Qual cor melhor a traduz?
Talvez, o que sempre há
De cor e luz, de luz e cor
Em teus olhos –
Que jamais deixo de recordar...
Obs: Obra de Munch.
Dedico à minha Janaina.
sábado, 24 de março de 2012
Querer que sempre quero
Já não sei
Das horas,
Dos minutos,
Dos segundos,
Quando fico
A pensar
Em ti...
Pois cada
Segundo
É um mundo
Contigo.
Pois cada
Minuto
Me inunda
De ti.
Pois cada
Hora
Transborda
Meu amor
Por ti –
Vida adentro,
Vida afora.
Sem sequer
Um momento
Que te quero
Sem te querer,
Pois cada
Momento nosso
É um querer
Que sempre
Quero.
Obs: Obra de Chardin.
Dedico à minha Janaina.
sexta-feira, 23 de março de 2012
Morte
quinta-feira, 22 de março de 2012
Navegante sou
Navegante sou
Ao longo do mar
Do amor,
Ante um horizonte
De luar só teu,
Ante uma alegria
De brisa só tua.
Arquipélago
De deslumbramento
Sem jamais
Haver desapego.
Lonjura,
De lado a lado,
Do oceano
Que conjuga
Sempre doçura.
Proa da vela
Que me revela
Como a vida
Vai e vem -
Sempre tão boa.
Voz do mar
Cujo som
Me recuso
A desvendar
De todo.
Nem seria
Capaz de tanto...
Obs: Obra de Turner.
Dedico à minha Janaina.
quarta-feira, 21 de março de 2012
Chuva
Chuva alguma
Fica sem o frescor
De tua boca
Intensa
Chuva alguma
Fica sem tamborilar
A sensualidade
De teu corpo
Chuva alguma
Refuta
A tua beleza
Sempre tua
Chuva alguma
Arruma pretexto
Para ser menos chuva
Diante de uma pele
Como a tua
Chuva alguma
Esfuma
Algo de mim
Por ti
Chuva alguma
Enfuna sem enfunar
Meu desejo
Louco por você
Obs: Imagem descoberta no Google.
Dedico à minha Janaina.
Cintilações de um fósforo: Twitter
O que você faz da vida? Faço da minha vida algo que seja menos morte que me finda, faço da minha vida algo que seja ainda mais vida...
Para qual recaída espiritual não há uma saída? Para qual saída espiritual não há uma recaída? De um para outro, enquanto tudo é mútuo, sigo.
Mesmo quem jamais soube tocar piano se fascina com a premência das teclas. Por outro lado, traz-me paz a paciência das teclas do computador.
Quanto mais querem me compreender, mais deixam de compreender o quanto de mistério há em não compreender de todo...
Silêncio: quando o fora se faz dentro, quando o dentro se faz fora - relógio que não oferta os segundos, nem os minutos sem o gozo das horas.
Quando eu não souber ao certo o que fazer de mim, espero ao menos não fazer nada senão por algo de mim em outrem, por algo de outrem em mim.
Sei que os fantasmas me assustam: mas, quem disse que não pode ocorrer o contrário? Quem disse que não posso ser fantasma de meus fantasmas?
Talvez não haja cuidados excessivos sem descuidos imprevistos, nem descuidos naturais sem cuidados subterrâneos...
Vou em frente, frente a frente, com o que há de mundo, com o que há de mim. Vou em frente, presente e ausente.
Qualquer voz que diga com o coração não é uma voz qualquer. Qualquer voz qualquer mal quer a própria voz.
Cansaço é a matéria-prima prestes a ser aço...
Tudo passa: menos aquele momento que jamais deixou de ser doce momento.
Lavra-me de alegria o encontro entre o que há de corpo e o que há de alma na palavra.
Diante da vida, sou tal qual o mar: adiante de tudo, adiante de nada. Diante da vida, sou tal qual o rio: sem antes que não seja logo depois.
Talvez saiba o que é sofrer, talvez saiba o que é prazer: não saber o que é amor, eis a infelicidade.
Será que é a bonança que vem sempre entre tempestades ou será que é a tempestade que vem sempre entre bonanças?
Chegam momentos da vida que é necessário profundo sono. Chegam momentos do sono que é necessário acordar.
Tristeza é uma luz que ainda não encontrou superfície... Alegria é uma sombra que ainda não se tornou limbo...
Não duvido do caráter duvidoso presente no mundo. No entanto, acredito ser saudável haver dúvidas quanto ao mistério da alma sem dúvidas.
Ser pensador é tudo o que procuro: ser poeta é tudo o que consigo...
Obs: Obra de Van Gogh.
terça-feira, 20 de março de 2012
Ar da madrugada
Nada me traz
Tanta paz
Senão quando
Você,
Depois que chega bem
Em tua casa,
Vai ao meu encontro
Por telefone.
Luar que me
Acolhe por inteiro.
Perfume de jasmim
Que a noite sacramenta
Em mim.
Música
Ao longo do murmúrio
Do rio da vida.
Morango com açúcar
A ponto de ser
Da boca fremente.
Enquanto
Somos o destino do vento
Diante do garboso arvoredo.
Enquanto
Somos alguma escultura
Que cultua na própria matéria
O ar da madrugada.
Obs: Obra de Rodin.
domingo, 18 de março de 2012
Minuto
Minuto
Sem lembrança
De ti
É minuto
De vazio vulto.
Minuto
Sem lembrança
De ti
É minuto
De tumulto.
Minuto
Sem lembrança
De ti
É minuto
Soturno.
Minuto
Sem lembrança
De ti
É minuto
Diminuto.
Minuto
Sem lembrança
De ti
É minuto
Sem nada
Da infância,
Sem nada
Da criança
Que há em mim.
Minuto
Assim
É minuto
Em que
Mal posso
Enfim
Minutá-lo
Com iminutável
Alegria.
Para Jana: mulher que sempre me faz recuperar a memória.
Obs: Obra de Munch.
sábado, 17 de março de 2012
Percalços
sexta-feira, 16 de março de 2012
Mundo
segunda-feira, 12 de março de 2012
O que meus olhos acalentam...
Sei tão pouco de mim,
Com tão pouca firmeza
Para tudo o que exige desenvoltura.
Sei que sou frágil
De um modo sereno e tímido.
Sei que o mundo
Não permite que eu veja
O fundo de tudo.
Sei que meu espelho
Reflete os olhos
Que nem sempre sabem bem
Como se olha.
Sei que meu espelho
Reflete os lábios
Que nem sempre sabem bem
Como reencontrar o próprio sorriso.
Sei que meu espelho
É impalpável,
Enquanto eu
Mais carne
E menos osso.
Sei que minha alegria
É sempre estar diante de
Uma obra de arte.
Sei que o teu silêncio
Me afaga,
Sei que a tua cor
Me torna humano,
Sei que a tua beleza
Me faz sorrir
Quando triste.
Sei também que
Não procuro nada
Na Pintura
Que não seja grata
Emoção,
Que não seja
Pureza dos olhos
Plenos de fé.
Sei também que
Não procuro nada
Que não seja
Duradoura confidência,
Sem sequer uma hesitação.
Procuro, sim, que minhas
Palavras
Sejam comunhão:
Entre o que você sente
E o que sinto –
Elo eterno
De uma amizade
Sem falta de solicitude,
Desde que haja
Terno respeito
Mútuo.
Fábio Padilha Neves.
Obs: Obra de Lucien Freud.
terça-feira, 6 de março de 2012
Grafia da alma por qual me devoto...
Perdoem-me voltar
A tal assunto
Sempre e sempre...
Mas abunda em mim
Uma onda que
Jamais desregressa:
Com tal frescor vem
Que mal posso
Resistir de fato.
Gestante do belo,
Confesso que jamais
Deixo de lado
Uma alegria
Que se comove
Com o mundo.
Não é menos
Verdade que
A Exposição da Pirelli,
No MASP,
Arrebatou-me com ímpeto...
Não apenas por que
São duradouras fotos
Ao longo do aconchegante
Espaço,
Mas também por que
As fotos são o dom
Da imagem ao longo
Do espaço da memória de meu ser.
Não demora assim
Para que a criança
Que sobe a curva
De uma escada
Seja eterna gratidão.
Não demora assim
Para que o jogo de planos
Entre uma mesa
E uma janela
Seja plena confidência.
Não de outro modo,
O menino de castigo
No canto da parede
Sou eu.
Não de outro modo,
Aquele lábio carnudo
Que vi
Ainda sou eu.
Brasília, tão longínqua
E deslumbrante,
Há de ser mais uma vez
Eu.
Qualquer pausa
Em busca de sossego
Sou eu
Sim.
Quanto de mim
Sou sem a festa
Do outro que sou eu?
Quanto de mim
Sou sem a luta
Do outro que sou eu?
Quanto mais
Procuro alguma descoberta,
Mais a cubro
De afeto e amor...
Algo nos olhos
Que vislumbrei e vislumbrei
Não se apreende de imediato:
O que é gás, o que é cosmos?
Como ver sequer
Um traço
Do mundo que
Geraldo de Barros
Esbarra
Sem momento de sonho?
Que acordo
Posso ter com
O denso desacordo
Que é existir?
Pergunto-me
Sem saber
Com que fim
Algo saber...
Acaso o sono
Entrevisto
Do Yanomami
É menos sono
Sem o que há do fotografo,
Sem o que há de mim?
Melhor seria perguntar:
Acaso o jasmim
Fica sem olfato,
Acaso o olfato
Fica sem jasmim?
Acredito que não...
Fábio Padilha Neves
Obs: Fotos de Alécio Andrade e Mário Cravo Neto, respectivamente.
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