sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Uma carta a ti: minha mãe



Sou, antes de tudo, um solitário atento: basta ver como tu prezas a amizade – sempre aprendo algo. Basta ver o que se basta: tua sincera alegria – sempre ao redor de pessoas boas e afáveis. E assunto, entre as amigas, nunca falta. Respeito e zelo, também nunca. Vontade de ser um pouco de cada felicidade e preocupação de estar por perto em cada tristeza, tampouco. Muito menos, quando é um ouvido amigo (tal como sempre foi), logo hoje, que ninguém mais ouve. Muito menos, quando é uma língua cuidadosa (tal como sempre foi), logo hoje, que ninguém mais lhe segura o ímpeto. Com efeito, tu és de uma paciência que só a fé é capaz de ter. Com efeito, tu és de uma discrição que nem toda prece humana possui.

Sem dúvida, ser mãe é ser a calidez macia de um ninho; é ser a corola de uma flor – para que haja a exuberância perfumosa do mundo; é ser a administração de uma colméia – sempre entre o mel e o zunido; é ser, por toda vida, o forro de uma blusa de frio; é ser, ante o meu prazer, um pincel para cada nuance de uma pintura; é ser de uma melodia que cabe apenas às flautas; é ser de uma temperatura terna que reconheço sempre numa tarde de Primavera. Teus ouvidos são tão sensíveis que antecipam meus atos – percebem, durante o barulho de uma porcelana, o desejo por doce. Percebem que já estou afinal em casa – por mais que se perca parcela do sono devido ao barulho da chave. E, mesmo que eu aprenda o esconderijo dos chocolates, mal reclama com pulso firme. Não é apenas uma mãe: é uma conselheira que, por vezes, cala. Não é apenas uma mãe: é uma juíza que adia o veredito. Não é apenas uma mãe: é uma brisa que sempre traz algo do mar. Não é apenas uma mãe: é uma médica que não se contenta com a própria especialidade. Não é apenas uma mãe: é o Sol quando há Sol, é a Lua quando há Lua. Não é, devo dizer, apenas uma mãe: é o que faz de toda mãe uma mãe...

Beijos amorosos,
De seu filho Fábio.

Obs: obra de Cézanne.

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