quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Saul Steinberg: a sabedoria do traço



Não há exposição de renome que não traga, com vitalidade, a essência de um artista, uma beleza que se renova a cada imagem, uma capacidade legítima de ver o progresso das obras, de ver a cada passo o frescor e qualidade que se assomam, como se fosse necessário uma sequência de árvores para sentir toda presença do ar dos bosques. E é, sem dúvida, o que penso quando vejo a exposição “Saul Steinberg – As aventuras da linha”, na Pinacoteca. Raro é o artista que consegue ir de um tema a outro com tanta sabedoria, com tanta sensibilidade para o pormenor, com tanta acuidade para perceber a atmosfera ampla e variada do todo, com tanta alegria para interpretar o cotidiano de modo lúdico, com tanta energia no mínimo traço, na mínima caracterização de um personagem, na mínima possibilidade de ver humor em tudo, humor que apreendeu tão bem na cidade americana que lhe acolheu: Nova Iorque.




É difícil imaginar outra cidade que se adaptasse tão bem a seu traço, é difícil imaginar outra cidade que fosse dotada de tanto dinamismo cultural, de tanta latente modernidade, de tantas manias e modas, como toda grande cidade. Saul, através do traço enérgico, percebia tudo isso em Nova Iorque, sempre com a qualidade inata de todo mestre, que sabe ver o passageiro ou o duradouro, a ponto de cristalizá-lo no tempo, a ponto de tornar o passado eterna memória. E quem acha que apenas encontrará o artista urbano, vai se surpreender com os cowboys de Saul, com as paisagens solitárias do Oeste americano, com a vastidão marcada pelas ferrovias. Não há condição humana, não há paisagem ou cidade que escape de seu peculiar traço, não há simples foto que não se torne matéria-prima para sua criatividade, não há situação que não encontre motivo sedutor para se embeber de vida. Saul Steinberg se apodera do mundo com muita convicção, com muito lirismo, com muita gentileza quase ingênua, não fosse, por certo, a fina ironia, com muito amor para identificar, até mesmo, no mais simples inseto, um testemunho curioso da natureza. Vale, portanto, uma visita, na Pinacoteca, para se descobrir um trabalho tão original como é de fato e, sem dúvida, aprimorar a própria percepção da realidade.


Fábio Padilha Neves


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