sexta-feira, 12 de novembro de 2010

A voz cuja chama jamais cessa...



É comum relembrar a voz vigorosa do vento, o som eterno das ondas, a maravilha densa de um saxofone quando a noite rumina o seu próprio silêncio, enquanto eu hei de lembrar a voz de meu pai, mais que tudo, já que é justamente o seu timbre que me faz reconhecer a beleza da existência. Sem sua voz, o que seria do rumor perene das águas de um rio? Como ouvir o badalar dos sinos, sem ter a sua correspondência humana quando chego em casa? Como ver a Lua, grande no céu, sem receber a sua luz solene na face? Qual é o repouso do bosque, sem a magnitude de suas sombras? Sua voz possui a precisão e acalanto das mãos de Leonardo da Vinci quando forjou Mona Lisa. Como é bom, portanto, ouvir a sua voz no pequeno anfiteatro grego que é nossa sala! Não há nenhuma pedra branca, lá, que não seja polida pelo tempo de seus sessenta anos...
Se chego em casa e, calmo, avanço, sei que, por um momento, ouvirei, do fundo da noite, todas as notas mais doces de uma harpa... Ainda lembro, decerto, a sua voz da janela do apartamento em sinal de extremo cuidado, para com nossos passos na rua. Não há um nascer de Sol que não tenha a sua assinatura. Não há um pôr-do-sol mais poderoso que ouvir o seu molho de chaves quando chega. Quando já não estiver mais aqui, entre nós, terei que recorrer à paz de uma catedral para, quem sabe assim, ter de novo sua presença através da luz sibilante dos vitrais. Ou então absorver com carinho a luz cheia de euforia de um quadro de Van Gogh...

Um comentário:

  1. Fábio, seu irmão me mostrou esse texto e eu gostei bastante dele.
    Espero que você goste de saber que eu o postei no meu blog, http://retorikos.wordpress.com , revelando a sua autoria, é claro.
    Abraço, José Augusto.

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