terça-feira, 19 de março de 2013

Mozart: levitação ao longo do chão




Quisera eu ser sempre a alegria pungente de Mozart. Que não se faz sem grata leveza. Pronto me encontro de doce verdade quando o ouço. Numa delicadeza da flauta que tudo traz de inefável à alma. Flauta que na pausa me arrepia, para na sequência ser de novo flauta. Com nobreza, e plena de um colorido desprovido de estridente alarido. Quanto de sua paz se transmuda em mim? Quanto de suas asas voam ao redor de meu coração? Jamais saberei... Pergunto apenas por que de puro espanto sou feito. E com justiça sei o quanto esta chama em nada volúvel atiça o meu ser. Quero com toda a emoção seguir este bosque que me faz convites de ternura. E, enquanto vou, me realizo na singeleza da luz que lá descubro. Com a certeza de haver para cada passo a mansidão de uma folha que cai, além da serenidade do som do riacho. E como posso ao menos por um momento ser pendor ao sorvo casto destas gélidas águas.

Ah, ser o mandamento do amor que há em cada andamento... Pertencer ao mundo da melodia, no que há de dom e milagre. Que não haja nada em meu rosto senão a luz deste sol jamais deposto. Que eu sinta em mim a brevidade nada breve deste jasmim. Que meus ouvidos sejam sempre porto para o louvor secreto de Mozart. E que neste murmurar eu perceba sempre para onde rumar. De tal modo que no desespero haja um basta no vespeiro da alma. E que de todo o coração eu possa deslindar a infinita maravilha que há na vida. Ouço e assim louvo. Ouço a ponto de tudo ser duradouro. Ouço e volto a ser eu de outro modo. Ouço e recordo, enquanto mais uma vez acordo para a vida. Ouço, e sou no que sou o que só posso ser nesta música sendo. Apreendo-me sendo mais do que normalmente sou. Eis o que me basta no que me basta de ser.



Obs: Foto de Mozart encontrada no Google.

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