Quisera eu ser sempre a
alegria pungente de Mozart. Que não se faz sem grata leveza. Pronto me encontro
de doce verdade quando o ouço. Numa delicadeza da flauta que tudo traz de
inefável à alma. Flauta que na pausa me arrepia, para na sequência ser de novo
flauta. Com nobreza, e plena de um colorido desprovido de estridente alarido.
Quanto de sua paz se transmuda em mim? Quanto de suas asas voam ao redor de meu
coração? Jamais saberei... Pergunto apenas por que de puro espanto sou feito. E
com justiça sei o quanto esta chama em nada volúvel atiça o meu ser. Quero com
toda a emoção seguir este bosque que me faz convites de ternura. E, enquanto
vou, me realizo na singeleza da luz que lá descubro. Com a certeza de haver para
cada passo a mansidão de uma folha que cai, além da serenidade do som do
riacho. E como posso ao menos por um momento ser pendor ao sorvo casto destas
gélidas águas.
Ah, ser o mandamento do amor
que há em cada andamento... Pertencer ao mundo da melodia, no que há de dom e
milagre. Que não haja nada em meu rosto senão a luz deste sol jamais deposto.
Que eu sinta em mim a brevidade nada breve deste jasmim. Que meus ouvidos sejam
sempre porto para o louvor secreto de Mozart. E que neste murmurar eu perceba sempre
para onde rumar. De tal modo que no desespero haja um basta no vespeiro da
alma. E que de todo o coração eu possa deslindar a infinita maravilha que há na
vida. Ouço e assim louvo. Ouço a ponto de tudo ser duradouro. Ouço e volto a
ser eu de outro modo. Ouço e recordo, enquanto mais uma vez acordo para a vida.
Ouço, e sou no que sou o que só posso ser nesta música sendo. Apreendo-me
sendo mais do que normalmente sou. Eis o que me basta no que me basta de ser.
Obs: Foto de Mozart encontrada no Google.
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