segunda-feira, 11 de março de 2013

A magia de Karajan




Sim, me pergunto, não sem enlevo, que movimentos são mais belos senão aqueles do maestro Karajan? Já que quando rege alguma Sinfonia de Beethoven simplesmente ergue voo?! Este homem domina nas mãos o cosmos musical, a tal ponto que basta premeditado gesto para fazer da Tempestade, não mera Tempestade. Como é possível tamanha elegância de porte? E com que verdade mais ampla em cada pormenor do andamento tudo acalanta... Esculpe, devo dizer, com as mãos aquilo que há de mais arraigado em seu ser. E tal qual termômetro apurado mede com exatidão o ardor contido ou incontido que prevalece na música. Chama para si a todo instante o premente acorde, quase como se silentemente rogasse, de tal modo que permite para si próprio as pulsões mais plenas de justa volúpia. Deixa que o vento ganhe vulto na lona das velas, enquanto sem temor as ajusta com clarividência. Mal abre os olhos; possui dentro de si o Mundo. Mal abre os olhos; nas pálpebras pressente o Sol. Mal abre os olhos; que seja todo feito de onda e espuma.

Não perde sequer por um momento o domínio das estrelas. Pois quanto mais seu ser está presente de ritmo, mais compreende o rastro sideral da Vida. E permanece assim espelho de sua Orquestra -, captura tudo, antecede o inaudito, explora a vastidão sonora, e deixa se embeber deste rio que jorra, deste volume ancestral de regozijo infindo, que, por mais que não se saiba bem de qual nascente surge, sempre é imorredoura, corrente por sinal indubitável que se perpetua na fibra, na circulação sanguínea, nos ossos deste grande maestro...



Obs: Uma foto de Karajan encontrada no Google. 

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