Sim, me pergunto, não sem enlevo, que movimentos são mais
belos senão aqueles do maestro Karajan? Já que quando rege alguma Sinfonia de
Beethoven simplesmente ergue voo?! Este homem domina nas mãos o cosmos musical,
a tal ponto que basta premeditado gesto para fazer da Tempestade, não mera
Tempestade. Como é possível tamanha elegância de porte? E com que verdade mais
ampla em cada pormenor do andamento tudo acalanta... Esculpe, devo dizer, com as mãos aquilo
que há de mais arraigado em seu ser. E tal qual termômetro apurado mede com
exatidão o ardor contido ou incontido que prevalece na música. Chama para si a
todo instante o premente acorde, quase como se silentemente rogasse, de tal
modo que permite para si próprio as pulsões mais plenas de justa volúpia. Deixa
que o vento ganhe vulto na lona das velas, enquanto sem temor as ajusta com
clarividência. Mal abre os olhos; possui dentro de si o Mundo. Mal abre os
olhos; nas pálpebras pressente o Sol. Mal abre os olhos; que seja todo feito de
onda e espuma.
Não perde sequer por um
momento o domínio das estrelas. Pois quanto mais seu ser está presente de ritmo,
mais compreende o rastro sideral da Vida. E permanece assim espelho de sua Orquestra -, captura tudo, antecede o inaudito, explora a vastidão sonora, e
deixa se embeber deste rio que jorra, deste volume ancestral de regozijo
infindo, que, por mais que não se saiba bem de qual nascente surge, sempre é imorredoura, corrente por sinal indubitável que se perpetua na fibra, na circulação
sanguínea, nos ossos deste grande maestro...
Obs: Uma foto de Karajan encontrada no Google.
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