sábado, 30 de março de 2013

Sim, o que há de belo no amor...




Alguns filmes fazem pensar. Outros fazem sentir. Mas há aqueles que fazem pensar e sentir ao mesmo tempo. Há aqueles filmes que, além de longa metragem, são longa aragem ao longo da alma. Há aqueles filmes com começo, meio e fim que não findam. Que se enraízam na memória para lhe garantir a existência, com o intuito de perfumá-la, aqui e ali, conforme se desenrola a vida. Há aqueles filmes em que a ação é mais importante que o pensamento. Há, por outro lado, aqueles filmes em que a ação silenciosa dos olhos emerge, a ação de um singelo gesto emerge, quando tudo o que se queria realmente era um pouco de delicadeza. Há aqueles filmes que vão de uma cena a outra de modo muito veloz. Há, por outro lado, aqueles filmes que deixam a natureza das circunstâncias, em toda a sua bela pausa, ganhar voz.

Há aqueles filmes cujo enredo não possui nem pé, nem cabeça. Há, por outro lado, aqueles filmes cujo enredo possui não apenas pé e cabeça, mas olhos que falam, mas boca que plenamente sugere, mas ouvidos que com pureza escutam, mas mãos que, não sem verdade, tocam. Há aqueles filmes dos quais se espera sempre um final feliz. Há, por outro lado, aqueles filmes dos quais somente se espera a esperança que apenas o amor traz. Há aqueles filmes que logo se cria uma expectativa para assistir. Há, por outro lado, aqueles filmes que logo criam a expectativa de que se assista por um momento mais a si mesmo, mais o que há de mais fundo em si mesmo. Há aqueles filmes feitos para o momento. Há, por outro lado, aqueles filmes feitos para durar. Há aqueles filmes que se precisa dizer algo objetivo para compreendê-lo. Há, por outro lado, aqueles filmes que prefiro de algum modo preservar o mistério, e somente escrever nas estrelas o seu nome: "Amor é tudo o que você precisa". Eis tudo o que posso dizer do filme...



Obs: Imagem encontrada no Google.

terça-feira, 19 de março de 2013

Mozart: levitação ao longo do chão




Quisera eu ser sempre a alegria pungente de Mozart. Que não se faz sem grata leveza. Pronto me encontro de doce verdade quando o ouço. Numa delicadeza da flauta que tudo traz de inefável à alma. Flauta que na pausa me arrepia, para na sequência ser de novo flauta. Com nobreza, e plena de um colorido desprovido de estridente alarido. Quanto de sua paz se transmuda em mim? Quanto de suas asas voam ao redor de meu coração? Jamais saberei... Pergunto apenas por que de puro espanto sou feito. E com justiça sei o quanto esta chama em nada volúvel atiça o meu ser. Quero com toda a emoção seguir este bosque que me faz convites de ternura. E, enquanto vou, me realizo na singeleza da luz que lá descubro. Com a certeza de haver para cada passo a mansidão de uma folha que cai, além da serenidade do som do riacho. E como posso ao menos por um momento ser pendor ao sorvo casto destas gélidas águas.

Ah, ser o mandamento do amor que há em cada andamento... Pertencer ao mundo da melodia, no que há de dom e milagre. Que não haja nada em meu rosto senão a luz deste sol jamais deposto. Que eu sinta em mim a brevidade nada breve deste jasmim. Que meus ouvidos sejam sempre porto para o louvor secreto de Mozart. E que neste murmurar eu perceba sempre para onde rumar. De tal modo que no desespero haja um basta no vespeiro da alma. E que de todo o coração eu possa deslindar a infinita maravilha que há na vida. Ouço e assim louvo. Ouço a ponto de tudo ser duradouro. Ouço e volto a ser eu de outro modo. Ouço e recordo, enquanto mais uma vez acordo para a vida. Ouço, e sou no que sou o que só posso ser nesta música sendo. Apreendo-me sendo mais do que normalmente sou. Eis o que me basta no que me basta de ser.



Obs: Foto de Mozart encontrada no Google.

segunda-feira, 11 de março de 2013

A magia de Karajan




Sim, me pergunto, não sem enlevo, que movimentos são mais belos senão aqueles do maestro Karajan? Já que quando rege alguma Sinfonia de Beethoven simplesmente ergue voo?! Este homem domina nas mãos o cosmos musical, a tal ponto que basta premeditado gesto para fazer da Tempestade, não mera Tempestade. Como é possível tamanha elegância de porte? E com que verdade mais ampla em cada pormenor do andamento tudo acalanta... Esculpe, devo dizer, com as mãos aquilo que há de mais arraigado em seu ser. E tal qual termômetro apurado mede com exatidão o ardor contido ou incontido que prevalece na música. Chama para si a todo instante o premente acorde, quase como se silentemente rogasse, de tal modo que permite para si próprio as pulsões mais plenas de justa volúpia. Deixa que o vento ganhe vulto na lona das velas, enquanto sem temor as ajusta com clarividência. Mal abre os olhos; possui dentro de si o Mundo. Mal abre os olhos; nas pálpebras pressente o Sol. Mal abre os olhos; que seja todo feito de onda e espuma.

Não perde sequer por um momento o domínio das estrelas. Pois quanto mais seu ser está presente de ritmo, mais compreende o rastro sideral da Vida. E permanece assim espelho de sua Orquestra -, captura tudo, antecede o inaudito, explora a vastidão sonora, e deixa se embeber deste rio que jorra, deste volume ancestral de regozijo infindo, que, por mais que não se saiba bem de qual nascente surge, sempre é imorredoura, corrente por sinal indubitável que se perpetua na fibra, na circulação sanguínea, nos ossos deste grande maestro...



Obs: Uma foto de Karajan encontrada no Google.