terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Salvador Dali: devaneio com suaves arreios




Há no mistério da vida algo que punge, pelo fato de tudo ser névoa que se mescla a algum insólito perfume. Com a arte de Salvador Dali não é diferente, pois surge premente de significados. E quanto mais simples em seus elementos, mais plena de difuso centro, embora jamais confuso, pelo menos não neste quadro em questão. Prevalece nele uma clarividência excepcional, um vigor plástico cuja ousadia advém de um belo ímpeto qual instinto de poeta, uma vez que cada parte do todo é sempre o todo em sua total integridade, em sua total dignidade.

De que região vem este rosto deposto ao chão? De que lugar avulta sem abrigo, sem teto, sem nenhum consolo a contento? De que modo posso albergar teus olhos em meio à desolação, em meio à insolação da alma? Ainda que seu rosto seja composto por integrantes de uma provável tribo, onde, eu me pergunto, onde já vi rosto mais perdido? Eis que tenho o pendor para de algum modo afagá-lo, assim como o vento afaga uma planície, a tal ponto que talvez fosse possível do verdor de sua cabeleira vegetal a singeleza de um pomar. Ou senão, talvez fosse possível da maçã de seu rosto - a casa da tribo - motivo de brando fogo para o sono. E da parede que forma o pescoço talvez fosse possível a peraltice de uma criança ao trazer palavras e sorrisos para o torcicolo. E quem sabe assim ao menos se teria para este rosto um pouco de consolo, verdade maior que toda arte no fundo busca para desofuscar a alma combalida da humanidade.


Obs: Obra de Salvador Dali, encontrada no Google.

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